O que os números dizem sobre os 33 partidos brasileiros


Após os fim dos Partidos em Números, o Pindograma faz uma retrospectiva para entender os padrões que apareceram no decorrer da série
POR FERNANDA NUNES E JOÃO GADO F. COSTA • 30/04/2021

Dados e infografia: Antonio Piltcher.


Entre outubro de 2020 e fevereiro de 2021, ao longo de 18 semanas, o Pindograma publicou uma série de matérias sobre os 33 partidos do Brasil. Ao analisar dados de todas as siglas, surgiram semelhanças e também pontos fora da curva. Por isso, trazemos agora uma análise compilada sobre a estrutura partidária brasileira, e o que os dados dizem sobre ela.


Filiados

A filiação partidária é a medida mais simples para avaliar o tamanho de um partido. É um bom indicador para saber quantos eleitores se identificam com a legenda ou quantos políticos a enxergam como um bom veículo para suas candidaturas.

Apesar dos números variarem entre as diferentes legendas, notamos, ao longo da elaboração das matérias da série, alguns padrões sobre a quantidade de filiados em cada partido.

Com pouquíssimas exceções, é difícil um partido perder filiados com o passar dos anos. Enquanto isso, o crescimento se dá em ciclos bianuais, correspondendo às eleições municipais e gerais. Devido à grande quantidade de candidatos, o crescimento é maior nas eleições municipais. Três partidos que exemplificam esse comportamento bem são o PSB, o PV e o Podemos.

Alguns poucos partidos, porém, apresentam ritmos acelerados de crescimento mesmo fora de ciclos eleitorais. Esses partidos tendem a ser menores e com posicionamentos e ideologia mais explícitos, como é o caso do PSOL e o NOVO.

Nos raros casos em que um partido perde filiados, isso geralmente ocorre devido a um racha interno que leva a uma debandada para outro partido. A fundação do PSD em 2011, por exemplo, custou muitos membros ao DEM.

Outro caso particular é o do PT. Entre 2014 e 2019 o número de filiados do partido estagnou. As crises políticas e os escândalos de corrupção nos quais a sigla esteve envolvida levaram a desfiliações em massa, mas o ciclo natural de crescimento compensou essas perdas, resultando numa estabilidade no número de filiados.

Como já discutimos aqui no Pindograma, os jovens podem ser um bom indicador do apelo popular de um partido. Legendas com mais jovens tendem a ter uma militância mais fiel e ideológica. Partidos como o PCdoB e o PSL têm, proporcionalmente, muito mais jovens que o DEM. No PCdoB, a proporção de militantes com menos de 35 anos é de 16,8%, já no DEM é de 7,68%.

Já entre os partidos maiores e mais tradicionais, que tendem a ser menos ideológicos, o perfil dos filiados tende a ser bem mais velho, com a faixa dos 45 aos 59 anos sendo a mais prevalente. É o caso do PP e do PL, por exemplo. Ambos possuem menos de 10% de filiados com menos de 35 anos, mas mais de 70% de membros entre os 35 e os 69 anos.

Outro padrão interessante que notamos foi o maior equilíbrio entre as faixas etárias em partidos fundados mais recentemente. O PMB, o PSD e a Rede têm uma distribuição parecida de filiados em diferentes idades.

A vasta maioria dos partidos tem entre 40% e 50% de seus filiados composta por mulheres. A proporção vem se igualando lentamente ao longo dos anos: em 2008, a média era de 43,9%, e passou para 44,2% em 2020. Apenas 2 partidos tinham uma maioria de mulheres entre seus filiados em 2020: o Republicanos, com 50,3% e o PMB, com 54,9%. Mas, curiosamente, essa porcentagem vem diminuindo nos últimos anos nos dois partidos.

Do lado oposto, destacam-se o PSL, o NOVO e o PCO, que tinham menos de 40% de filiadas mulheres. O PSL teve uma diminuição brusca na proporção de mulheres filiadas entre 2018 e 2020, uma vez que os bolsonaristas que ingressaram no partido são predominantemente homens.

Os partidos mais antigos e tradicionais têm mais capilaridade pelo país. Por isso, legendas como MDB, PDT, PP e PT lideram quando analisamos as taxas de concentração de filiados por 100 mil eleitores em cada estado. Mas, em alguns com população menor e desenvolvimento mais recente, partidos menores conseguem ocupar posições de protagonismo: no Amapá, o PSOL tem o maior número de filiados entre as legendas. O mesmo ocorre com o Patriota em Roraima e com o Republicanos no Amazonas.


Financiamento

O Fundo Partidário foi criado em 1995 e, desde então, vem sendo a principal fonte de renda das legendas brasileiras. Entre 2010 e 2020, o valor aumentou de R$200 milhões para R$834 milhões, com destaque para 2015, quando aconteceu o maior salto no valor total.

As quantias recebidas pelos partidos são um reflexo da expressão de cada um deles na Câmara. MDB, PT, PSD e PP receberam, historicamente, as maiores fatias do Fundo. De 2018 para 2019, a quantia recebida pelo PSL aumentou em 10 vezes, devido a sua expansão no cenário nacional com a eleição de Jair Bolsonaro. Isso fez o partido de Luciano Bivar pular da vigésima posição para a primeira no que tange verba recebida do fundo em apenas um ano.

Outros partidos tradicionais, como PP, PL e PSDB, tiveram uma diminuição da sua bancada na Câmara e, consequentemente, receberam menos do Fundo.

O partido Novo não utiliza a quantia do Fundo Partidário que recebe e procura devolvê-la ao Tesouro Nacional. O PRTB foi o único outro partido que abriu mão de receber recursos federais, recusando os recursos do Fundo Eleitoral em 2020.


Eleições 2020

Além de seus filiados, outra maneira de analisar um partido é por sua presença no território nacional, isto é, onde o partido lança candidatos e onde tem mais sucesso. Com os dados das eleições municipais de 2020, é possível ter uma ideia das diferentes estratégias dos partidos brasileiros.

O primeiro grupo é o dos grandes partidos, que têm candidatos por todo o país. O exemplo mais óbvio disso é o MDB. O partido teve candidatos em todos os estados da federação e alcançou muitos municípios pequenos do interior. A capacidade de chegar a lugares distantes dos grandes centros urbanos é um dos principais atrativos do MDB para candidatos. Em menor grau, o PT também tem um alcance nacional, embora suas chapas sejam mais comuns no Sudeste, Nordeste e Sul, e o seu sucesso eleitoral em 2020 tenha sido bem mais restrito.

Outro grupo é o dos partidos com fortes bases regionais. O PSDB, por exemplo, tem projeção nacional, mas os estados de São Paulo e do Mato Grosso do Sul, ambos governados por tucanos, são regiões de maior influência do partido. Outras legendas menores também apresentam esses focos regionais, como o PCdoB, que concentrou candidatos no Maranhão, estado governado pelo partido desde 2015.

Por fim, há alguns partidos que eventualmente têm projeção nacional, mas não têm capilaridade para sustentar candidaturas em cidades menores e mais interioranas. É o caso do partido Novo, que teve apenas 28 candidatos, todos em capitais ou em grandes centros urbanos.

A vasta maioria dos partidos brasileiros forma coligações independentemente de identificações ideológicas, principalmente nas eleições municipais. Vale lembrar que 2020 foi o primeiro ano em que partidos não puderam formar coligações para as eleições de cargos legislativos, apenas para as de cargos executivos, medida aprovada na reforma eleitoral de 2017.

De todas as candidaturas à prefeitura em 2020, 11.884 foram coligadas e 6.272 foram chapas únicas. Os partidos do Centrão e de centro-direita, maiores e historicamente mais fisiológicos, costumam fazer mais coligações. Lideram o ranking PSDB, PP, DEM, PSD e MDB, que formaram coligações em mais de 70% das candidaturas que lideraram. O PT coliga-se pouco considerando o padrão de outros partidos do seu tamanho, sendo o campeão de chapas únicas, com 605.

Além do PT, os partidos que menos se coligam também estão à esquerda do espectro político: PSOL, PSTU e PCB, além da recém-criada UP. As coligações representaram não mais de 20% das candidaturas desses partidos. Vemos estes partidos isolados no canto superior direito do gráfico, coligando-se apenas entre si e sem interação com outros partidos maiores. Por fim, o PCO, de extrema esquerda, e o NOVO, de direita, não formam coligações.

A falta de diversidade de sexo dos políticos brasileiros parece ser um problema que atravessa todos os partidos. Há poucos partidos que fogem do padrão de filiar e eleger poucas mulheres, apesar do recorde de mulheres que se candidataram em 2020.

A porcentagem de todos os candidatos que eram mulheres foi de 34% em 2020. Olhando para cada partido individualmente, elas representavam em média um de cada três candidatos. Dos 33 partidos brasileiros, apenas 6 fugiram deste padrão: o PCO teve apenas 25% de candidaturas femininas. Já o PT, PMB, PSOL, PSTU e UP tiveram entre 35% e 43%. Apesar desses exemplos positivos, vale lembrar que esses números ficam muito próximos da proporção mínima de candidaturas femininas estabelecida pelo TSE e válida pela primeira vez em 2020: 30%.

Apesar desse incentivo para as candidaturas femininas, a lei não parece ter surtido muito efeito, pois pouquíssimos partidos efetivamente elegeram mulheres numa porcentagem próxima a esse número. O número de candidatas eleitas ou que foram ao segundo turno em 2020 foi de apenas 15,6%. Poucos partidos ficaram distantes desse número: a DC foi o destaque negativo, elegendo apenas 8% de mulheres; enquanto o destaque positivo vai para o PT (21,1%), NOVO (33,3%) e PSOL (35,5%). As mulheres representam 51,8% da população brasileira.

A situação da raça dos candidatos é, em média, mais parecida com o perfil da população brasileira. A proporção de candidatos brancos foi de 47,7%, o mesmo número do total da população, de acordo com dados do Censo de 2010. A grande maioria dos partidos (29 dos 33) teve entre 37% e 55% de candidatos brancos. Apenas dois partidos tiveram uma maioria significativa de candidatos negros: o PCdoB e a UP. Já o NOVO e o PCO, chegaram às urnas com mais de 80% de candidatos brancos.

Candidatos indígenas e asiáticos são uma parcela ínfima em quase todos os partidos. Em apenas três partidos sua proporção passou de 1,5%: na UP, com 1,7%, na Rede, com 2,1% e no PSTU, com 3,4%.

Os brancos, no entanto, ainda foram a maioria dos candidatos eleitos: 54,6% do total. Olhando para os partidos, vemos uma distribuição relativamente uniforme, quase todos ficando entre 42% e 59% de brancos eleitos. O PCdoB foi o único partido cujos eleitos eram significativamente menos brancos que a população: mais de 70% dos seus eleitos eram negros.

Os partidos com mais eleitos brancos foram o NOVO, MDB, PSL e PSDB. Os três últimos elegeram cerca de 64% de candidatos brancos. Já no NOVO, 96,6% dos candidatos eleitos eram brancos, deixando o partido isolado no quesito racial.

No caso de candidatos asiáticos e indígenas, o número de eleitos foi muito baixo, como esperado dado o baixo número de candidaturas. O número de eleitos não passou de 1% entre os indígenas em nenhum partido exceto a Rede, onde foi de 2,7%. Já no caso dos asiáticos, somente o PSOL superou a cifra de 1% de eleitos: o grupo representou 3,3% de seus eleitos.


Eleições 2018

Em geral, os partidos que mais elegeram deputados estaduais foram os partidos maiores e mais tradicionais. O MDB elegeu 93 deputados estaduais, seguido pelo PT, com 85, e o PSL, com 76. O PSL é o partido que mais se destaca pelo número de representantes eleitos em comparação com seu tamanho. De resto, o PT, o PSB e os grandes partidos do Centrão — DEM, PP e PSD — estão entre os partidos mais fortes.

A dominância do PT e PSL nas eleições de 2018 também se reflete na Câmara dos Deputados, mas na Câmara o PT é que domina, com 56 representantes. O PSL fica logo atrás com 52 deputados. No Câmara dos Deputados, diferentemente das assembleias estaduais, o MDB não é mais a terceira potência, ficando atrás do PP e do PSD no número de deputados.

No Senado, o partido que representa o maior número de pessoas é o PSDB. Com apenas 8 senadores, o partido representa 48 milhões de brasileiros. Em comparação, o MDB elegeu 12 senadores, mas representa apenas 17 milhões de brasileiros, número similar ao do PT.

O PSDB também é o partido que representa o maior número de brasileiros nos governos estaduais. Juntando São Paulo, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul, o partido soma mais de 60 milhões de brasileiros sob seu governo. O PT, próximo partido na lista, tem quatro governadores, mas governa apenas 30 milhões de pessoas. Note que o mapa reflete os partidos dos governadores à época da eleição de 2018. No caso do Tocantins, o PHS não existe mais e o governador Mauro Carlesse está filiado ao PSL atualmente.


História

É possível dividir os partidos brasileiros em quatro grandes grupos no que tange a suas histórias.

Os partidos mais antigos têm origem em movimentos das décadas de 40 e 50. Foram banidos pelo regime militar, mas foram refundados durante a redemocratização. É o caso do PDT, PTB, PCB, PCdoB, Cidadania, PSB, Podemos e DC.

O segundo bloco de partidos surgiu durante os anos 80, durante a efervescência da redemocratização: PT, PSDB, DEM (ex-PFL), e PL. Os partidos políticos atuantes durante a Ditadura Militar — a ARENA e o MDB — também deram origem a novos partidos nessa época: o PP (ex-PDS) e o PMDB (atual MDB), respectivamente.

O terceiro grupo é de partidos que surgiram a partir dos anos 90 com a iniciativa de diversos setores da sociedade, como movimentos sociais e o empresariado. É o caso do PV, Rede, NOVO, UP, PSL, Republicanos, Patriota, PMB, PSC, PTC, PROS, Solidariedade e PMN.

Por fim, temos partidos que foram criados a partir de dissidências de outras siglas: PSOL, PSTU, Avante, PSD, PCO e PRTB.

Quase todos os principais partidos da Nova República se encontram no primeiro ou no segundo grupo. Com poucas exceções, os demais partidos surgidos de dissidências e outros movimentos tendem a ser secundários e até marginais no processo político atual.


Dados utilizados na matéria: Filiados a partidos (Tribunal Superior Eleitoral); Resultados eleições 2018 (TSE/Cepespdata); Candidatos eleições 2020 (TSE); Resultados eleições 2020 (TSE); IGPM (cortesia de Fernando Meireles, pacote deflateBR).

Créditos da imagem: Wilson Dias/Agência Brasil.

Para reproduzir os números citados, o código e os dados podem ser encontrados aqui.

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Fernanda Nunes é repórter e editora do Pindograma.

João Gado F. Costa é repórter do Pindograma.

O que os números dizem sobre os 33 partidos brasileiros

Após os fim dos Partidos em Números, o Pindograma faz uma retrospectiva para entender os padrões que apareceram no decorrer da série

Dados e infografia: Antonio Piltcher.


Entre outubro de 2020 e fevereiro de 2021, ao longo de 18 semanas, o Pindograma publicou uma série de matérias sobre os 33 partidos do Brasil. Ao analisar dados de todas as siglas, surgiram semelhanças e também pontos fora da curva. Por isso, trazemos agora uma análise compilada sobre a estrutura partidária brasileira, e o que os dados dizem sobre ela.


Filiados

A filiação partidária é a medida mais simples para avaliar o tamanho de um partido. É um bom indicador para saber quantos eleitores se identificam com a legenda ou quantos políticos a enxergam como um bom veículo para suas candidaturas.

Apesar dos números variarem entre as diferentes legendas, notamos, ao longo da elaboração das matérias da série, alguns padrões sobre a quantidade de filiados em cada partido.

Com pouquíssimas exceções, é difícil um partido perder filiados com o passar dos anos. Enquanto isso, o crescimento se dá em ciclos bianuais, correspondendo às eleições municipais e gerais. Devido à grande quantidade de candidatos, o crescimento é maior nas eleições municipais. Três partidos que exemplificam esse comportamento bem são o PSB, o PV e o Podemos.

Alguns poucos partidos, porém, apresentam ritmos acelerados de crescimento mesmo fora de ciclos eleitorais. Esses partidos tendem a ser menores e com posicionamentos e ideologia mais explícitos, como é o caso do PSOL e o NOVO.

Nos raros casos em que um partido perde filiados, isso geralmente ocorre devido a um racha interno que leva a uma debandada para outro partido. A fundação do PSD em 2011, por exemplo, custou muitos membros ao DEM.

Outro caso particular é o do PT. Entre 2014 e 2019 o número de filiados do partido estagnou. As crises políticas e os escândalos de corrupção nos quais a sigla esteve envolvida levaram a desfiliações em massa, mas o ciclo natural de crescimento compensou essas perdas, resultando numa estabilidade no número de filiados.

Como já discutimos aqui no Pindograma, os jovens podem ser um bom indicador do apelo popular de um partido. Legendas com mais jovens tendem a ter uma militância mais fiel e ideológica. Partidos como o PCdoB e o PSL têm, proporcionalmente, muito mais jovens que o DEM. No PCdoB, a proporção de militantes com menos de 35 anos é de 16,8%, já no DEM é de 7,68%.

Já entre os partidos maiores e mais tradicionais, que tendem a ser menos ideológicos, o perfil dos filiados tende a ser bem mais velho, com a faixa dos 45 aos 59 anos sendo a mais prevalente. É o caso do PP e do PL, por exemplo. Ambos possuem menos de 10% de filiados com menos de 35 anos, mas mais de 70% de membros entre os 35 e os 69 anos.

Outro padrão interessante que notamos foi o maior equilíbrio entre as faixas etárias em partidos fundados mais recentemente. O PMB, o PSD e a Rede têm uma distribuição parecida de filiados em diferentes idades.

A vasta maioria dos partidos tem entre 40% e 50% de seus filiados composta por mulheres. A proporção vem se igualando lentamente ao longo dos anos: em 2008, a média era de 43,9%, e passou para 44,2% em 2020. Apenas 2 partidos tinham uma maioria de mulheres entre seus filiados em 2020: o Republicanos, com 50,3% e o PMB, com 54,9%. Mas, curiosamente, essa porcentagem vem diminuindo nos últimos anos nos dois partidos.

Do lado oposto, destacam-se o PSL, o NOVO e o PCO, que tinham menos de 40% de filiadas mulheres. O PSL teve uma diminuição brusca na proporção de mulheres filiadas entre 2018 e 2020, uma vez que os bolsonaristas que ingressaram no partido são predominantemente homens.

Os partidos mais antigos e tradicionais têm mais capilaridade pelo país. Por isso, legendas como MDB, PDT, PP e PT lideram quando analisamos as taxas de concentração de filiados por 100 mil eleitores em cada estado. Mas, em alguns com população menor e desenvolvimento mais recente, partidos menores conseguem ocupar posições de protagonismo: no Amapá, o PSOL tem o maior número de filiados entre as legendas. O mesmo ocorre com o Patriota em Roraima e com o Republicanos no Amazonas.


Financiamento

O Fundo Partidário foi criado em 1995 e, desde então, vem sendo a principal fonte de renda das legendas brasileiras. Entre 2010 e 2020, o valor aumentou de R$200 milhões para R$834 milhões, com destaque para 2015, quando aconteceu o maior salto no valor total.

As quantias recebidas pelos partidos são um reflexo da expressão de cada um deles na Câmara. MDB, PT, PSD e PP receberam, historicamente, as maiores fatias do Fundo. De 2018 para 2019, a quantia recebida pelo PSL aumentou em 10 vezes, devido a sua expansão no cenário nacional com a eleição de Jair Bolsonaro. Isso fez o partido de Luciano Bivar pular da vigésima posição para a primeira no que tange verba recebida do fundo em apenas um ano.

Outros partidos tradicionais, como PP, PL e PSDB, tiveram uma diminuição da sua bancada na Câmara e, consequentemente, receberam menos do Fundo.

O partido Novo não utiliza a quantia do Fundo Partidário que recebe e procura devolvê-la ao Tesouro Nacional. O PRTB foi o único outro partido que abriu mão de receber recursos federais, recusando os recursos do Fundo Eleitoral em 2020.


Eleições 2020

Além de seus filiados, outra maneira de analisar um partido é por sua presença no território nacional, isto é, onde o partido lança candidatos e onde tem mais sucesso. Com os dados das eleições municipais de 2020, é possível ter uma ideia das diferentes estratégias dos partidos brasileiros.

O primeiro grupo é o dos grandes partidos, que têm candidatos por todo o país. O exemplo mais óbvio disso é o MDB. O partido teve candidatos em todos os estados da federação e alcançou muitos municípios pequenos do interior. A capacidade de chegar a lugares distantes dos grandes centros urbanos é um dos principais atrativos do MDB para candidatos. Em menor grau, o PT também tem um alcance nacional, embora suas chapas sejam mais comuns no Sudeste, Nordeste e Sul, e o seu sucesso eleitoral em 2020 tenha sido bem mais restrito.

Outro grupo é o dos partidos com fortes bases regionais. O PSDB, por exemplo, tem projeção nacional, mas os estados de São Paulo e do Mato Grosso do Sul, ambos governados por tucanos, são regiões de maior influência do partido. Outras legendas menores também apresentam esses focos regionais, como o PCdoB, que concentrou candidatos no Maranhão, estado governado pelo partido desde 2015.

Por fim, há alguns partidos que eventualmente têm projeção nacional, mas não têm capilaridade para sustentar candidaturas em cidades menores e mais interioranas. É o caso do partido Novo, que teve apenas 28 candidatos, todos em capitais ou em grandes centros urbanos.

A vasta maioria dos partidos brasileiros forma coligações independentemente de identificações ideológicas, principalmente nas eleições municipais. Vale lembrar que 2020 foi o primeiro ano em que partidos não puderam formar coligações para as eleições de cargos legislativos, apenas para as de cargos executivos, medida aprovada na reforma eleitoral de 2017.

De todas as candidaturas à prefeitura em 2020, 11.884 foram coligadas e 6.272 foram chapas únicas. Os partidos do Centrão e de centro-direita, maiores e historicamente mais fisiológicos, costumam fazer mais coligações. Lideram o ranking PSDB, PP, DEM, PSD e MDB, que formaram coligações em mais de 70% das candidaturas que lideraram. O PT coliga-se pouco considerando o padrão de outros partidos do seu tamanho, sendo o campeão de chapas únicas, com 605.

Além do PT, os partidos que menos se coligam também estão à esquerda do espectro político: PSOL, PSTU e PCB, além da recém-criada UP. As coligações representaram não mais de 20% das candidaturas desses partidos. Vemos estes partidos isolados no canto superior direito do gráfico, coligando-se apenas entre si e sem interação com outros partidos maiores. Por fim, o PCO, de extrema esquerda, e o NOVO, de direita, não formam coligações.

A falta de diversidade de sexo dos políticos brasileiros parece ser um problema que atravessa todos os partidos. Há poucos partidos que fogem do padrão de filiar e eleger poucas mulheres, apesar do recorde de mulheres que se candidataram em 2020.

A porcentagem de todos os candidatos que eram mulheres foi de 34% em 2020. Olhando para cada partido individualmente, elas representavam em média um de cada três candidatos. Dos 33 partidos brasileiros, apenas 6 fugiram deste padrão: o PCO teve apenas 25% de candidaturas femininas. Já o PT, PMB, PSOL, PSTU e UP tiveram entre 35% e 43%. Apesar desses exemplos positivos, vale lembrar que esses números ficam muito próximos da proporção mínima de candidaturas femininas estabelecida pelo TSE e válida pela primeira vez em 2020: 30%.

Apesar desse incentivo para as candidaturas femininas, a lei não parece ter surtido muito efeito, pois pouquíssimos partidos efetivamente elegeram mulheres numa porcentagem próxima a esse número. O número de candidatas eleitas ou que foram ao segundo turno em 2020 foi de apenas 15,6%. Poucos partidos ficaram distantes desse número: a DC foi o destaque negativo, elegendo apenas 8% de mulheres; enquanto o destaque positivo vai para o PT (21,1%), NOVO (33,3%) e PSOL (35,5%). As mulheres representam 51,8% da população brasileira.

A situação da raça dos candidatos é, em média, mais parecida com o perfil da população brasileira. A proporção de candidatos brancos foi de 47,7%, o mesmo número do total da população, de acordo com dados do Censo de 2010. A grande maioria dos partidos (29 dos 33) teve entre 37% e 55% de candidatos brancos. Apenas dois partidos tiveram uma maioria significativa de candidatos negros: o PCdoB e a UP. Já o NOVO e o PCO, chegaram às urnas com mais de 80% de candidatos brancos.

Candidatos indígenas e asiáticos são uma parcela ínfima em quase todos os partidos. Em apenas três partidos sua proporção passou de 1,5%: na UP, com 1,7%, na Rede, com 2,1% e no PSTU, com 3,4%.

Os brancos, no entanto, ainda foram a maioria dos candidatos eleitos: 54,6% do total. Olhando para os partidos, vemos uma distribuição relativamente uniforme, quase todos ficando entre 42% e 59% de brancos eleitos. O PCdoB foi o único partido cujos eleitos eram significativamente menos brancos que a população: mais de 70% dos seus eleitos eram negros.

Os partidos com mais eleitos brancos foram o NOVO, MDB, PSL e PSDB. Os três últimos elegeram cerca de 64% de candidatos brancos. Já no NOVO, 96,6% dos candidatos eleitos eram brancos, deixando o partido isolado no quesito racial.

No caso de candidatos asiáticos e indígenas, o número de eleitos foi muito baixo, como esperado dado o baixo número de candidaturas. O número de eleitos não passou de 1% entre os indígenas em nenhum partido exceto a Rede, onde foi de 2,7%. Já no caso dos asiáticos, somente o PSOL superou a cifra de 1% de eleitos: o grupo representou 3,3% de seus eleitos.


Eleições 2018

Em geral, os partidos que mais elegeram deputados estaduais foram os partidos maiores e mais tradicionais. O MDB elegeu 93 deputados estaduais, seguido pelo PT, com 85, e o PSL, com 76. O PSL é o partido que mais se destaca pelo número de representantes eleitos em comparação com seu tamanho. De resto, o PT, o PSB e os grandes partidos do Centrão — DEM, PP e PSD — estão entre os partidos mais fortes.

A dominância do PT e PSL nas eleições de 2018 também se reflete na Câmara dos Deputados, mas na Câmara o PT é que domina, com 56 representantes. O PSL fica logo atrás com 52 deputados. No Câmara dos Deputados, diferentemente das assembleias estaduais, o MDB não é mais a terceira potência, ficando atrás do PP e do PSD no número de deputados.

No Senado, o partido que representa o maior número de pessoas é o PSDB. Com apenas 8 senadores, o partido representa 48 milhões de brasileiros. Em comparação, o MDB elegeu 12 senadores, mas representa apenas 17 milhões de brasileiros, número similar ao do PT.

O PSDB também é o partido que representa o maior número de brasileiros nos governos estaduais. Juntando São Paulo, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul, o partido soma mais de 60 milhões de brasileiros sob seu governo. O PT, próximo partido na lista, tem quatro governadores, mas governa apenas 30 milhões de pessoas. Note que o mapa reflete os partidos dos governadores à época da eleição de 2018. No caso do Tocantins, o PHS não existe mais e o governador Mauro Carlesse está filiado ao PSL atualmente.


História

É possível dividir os partidos brasileiros em quatro grandes grupos no que tange a suas histórias.

Os partidos mais antigos têm origem em movimentos das décadas de 40 e 50. Foram banidos pelo regime militar, mas foram refundados durante a redemocratização. É o caso do PDT, PTB, PCB, PCdoB, Cidadania, PSB, Podemos e DC.

O segundo bloco de partidos surgiu durante os anos 80, durante a efervescência da redemocratização: PT, PSDB, DEM (ex-PFL), e PL. Os partidos políticos atuantes durante a Ditadura Militar — a ARENA e o MDB — também deram origem a novos partidos nessa época: o PP (ex-PDS) e o PMDB (atual MDB), respectivamente.

O terceiro grupo é de partidos que surgiram a partir dos anos 90 com a iniciativa de diversos setores da sociedade, como movimentos sociais e o empresariado. É o caso do PV, Rede, NOVO, UP, PSL, Republicanos, Patriota, PMB, PSC, PTC, PROS, Solidariedade e PMN.

Por fim, temos partidos que foram criados a partir de dissidências de outras siglas: PSOL, PSTU, Avante, PSD, PCO e PRTB.

Quase todos os principais partidos da Nova República se encontram no primeiro ou no segundo grupo. Com poucas exceções, os demais partidos surgidos de dissidências e outros movimentos tendem a ser secundários e até marginais no processo político atual.


Dados utilizados na matéria: Filiados a partidos (Tribunal Superior Eleitoral); Resultados eleições 2018 (TSE/Cepespdata); Candidatos eleições 2020 (TSE); Resultados eleições 2020 (TSE); IGPM (cortesia de Fernando Meireles, pacote deflateBR).

Créditos da imagem: Wilson Dias/Agência Brasil.

Para reproduzir os números citados, o código e os dados podem ser encontrados aqui.

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é repórter e editora do Pindograma.

João Gado F. Costa

é repórter do Pindograma.

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