Partidos em Números: Cidadania e Solidariedade


Gráficos, mapas e a história de dois partidos que dividem suas trajetórias entre a esquerda e a direita
POR JOÃO GADO F. COSTA E ANTONIO PILTCHER • 05/02/2021

Nesta edição do Partidos em Números, o Pindograma analisa os dados de dois partidos que dividem suas trajetórias entre a esquerda e a direita: o Solidariedade e o Cidadania.


Filiados

Desde sua fundação, o número de filiados ao Solidariedade cresceu em quase todos os anos, estabilizando apenas a partir de 2018 — um padrão incomum para a maioria das legendas brasileiras. Apesar do crescimento, o partido ainda tem um número de filiados menor que a maioria dos outros partidos, com cerca de 260 mil filiados atualmente.

Já o número de filiados do Cidadania está mais próximo de partidos; são cerca de 460 mil registrados no TSE. A legenda também apresenta um padrão incomum em seu número de filiados: entre anos de eleições municipais, o número de integrantes do partido diminuiu consideravelmente. No entanto, nos anos dos pleitos municipais, compartilha a tendência de crescimento da maioria das legendas.

O Solidariedade é um partido bem mais jovem que a maioria das legendas brasileiras. Um terço do partido tem até 34 anos — quase o dobro da média dos partidos do país. Em comparação, o Cidadania tem apenas um filiado jovem a cada 10 filiados.

Ambos os partidos seguem o típico padrão de proporção de sexo dos seus filiados: crescimento gradual ano a ano da porcentagem de mulheres, ficando em torno de 45% atualmente.

Ambos os partidos têm sua maior concentração de filiados no Mato Grosso. É importante ressaltar, no entanto, que a força desses partidos no estado é bem diferente: enquanto a taxa do Solidariedade é de 544 filiados por 100 mil habitantes, a concentração do Cidadania é de 1141, mais que o dobro.

Em geral, o Solidariedade tem mais força no restante do Centro Oeste e no Norte. O Cidadania também tem mais presença no Centro Oeste, além do Sul e alguns estados do Nordeste.


Financiamento

A proporção do fundo partidário que o Solidariedade recebe ficou próximo dos 3% desde 2014, ano em que participou de sua primeira eleição. Em 2020, o partido recebeu R$46.037.917,83 do Fundo Eleitoral.

O valor destinado ao Cidadania diminuiu significativamente depois de 2010. O partido nunca recuperou a influência que costumava ter no Congresso, levando a uma menor quantidade de verbas alocadas a ele. R$35.824.724,42 foram direcionados ao partido para as eleições de 2020 pelo Fundo Eleitoral.


Eleições 2020

O Solidariedade teve vários candidatos no Norte do estado do Rio de Janeiro, assim como no estado do Tocantins. Em menor grau, o partido teve vários candidatos em Minas Gerais e São Paulo e é mais fraco na Região Sul. No total, elegeu 94 prefeitos.

A maioria dos candidatos e dos 139 prefeitos eleitos do Cidadania estão concentrados nos estados do Sudeste e também no Paraná, Goiânia e Paraíba. A presença do partido na região Norte, assim como nos demais estados do Centro-Oeste, Sul e Nordeste, é quase nula.

Os candidatos dos dois partidos receberam apoio de quase todos os partidos, à exceção dos partidos mais à esquerda e do NOVO. O MDB, DEM e PSDB foram os maiores apoiadores do Solidariedade e Cidadania.

Em geral, os dois partidos também apoiaram as chapas dos mesmos partidos que os apoiaram — em geral do Centrão ou de centro-direita.

Assim como seus prefeitos candidatos e eleitos, os vereadores do Solidariedade se concentram no Norte do Rio de Janeiro e no Tocantins. O partido teve uma forte presença em Roraima, assim como em partes de Minas Gerais.

A distribuição dos candidatos a prefeito do Cidadania se assemelha muito à distribuição dos candidatos a vereador: estavam mais presentes no Sudeste, no Paraná, no Goiás e na Paraíba.

Já o perfil de raça e sexo do Cidadania foi mais próximo da maioria dos outros partidos: brancos foram o maior grupo de ambos os sexos e se elegeram mais que candidatos de outras identificações de raça e cor. As mulheres também tiveram um desempenho ruim: eram um terço dos candidatos e apenas 13,1% dos representantes eleitos.

O Solidariedade foi um dos poucos partidos cujos candidatos e eleitos foram, em sua maioria, pretos ou pardos. Na representatividade feminina, no entanto, teve desempenho ruim como a maioria dos partidos brasileiros — as mulheres eram 33,5% do total de candidatos e 15,3% do total de pessoas eleitas pela legenda.


Resultados em 2018

Ambos os partidos têm deputados estaduais eleitos em 16 estados por todas as regiões do país. O Solidariedade tem uma presença maior no Tocantins e em Roraima, já o Cidadania é maior em Alagoas.

O Solidariedade elegeu deputados federais em 12 estados. Proporcionalmente, o partido representa mais estados do Norte e Centro-Oeste. A bancada do partido na Câmara dos Deputados hoje é de 13 deputados.

Enquanto isso, o Cidadania elegeu seus deputados principalmente no Sul e Sudeste. O Espírito Santo é o estado que o partido mais representa proporcionalmente. Fora dessas regiões, o partido elegeu deputados no Distrito Federal e Pernambuco. O Cidadania tem 8 deputados no momento.

O Solidariedade elegeu o senador por Tocantins Eduardo Gomes em 2018. No entanto, o parlamentar deixou o partido pelo MDB em 2019.

Já o Cidadania elegeu dois senadores em 2018, pelo Maranhão e pelo Espírito Santo. Desde então, mais um senador — Jorge Kajuru, de Goiás — se juntou ao partido.

Nenhum dos dois partidos elegeu governadores em 2018.


História

Apesar de ter sido fundado apenas em 2012 — recebendo registro oficial junto ao TSE em 2013 —, a história do Solidariedade remonta ao final da década de 1980 e ao movimento sindical.

Durante o declínio da ditadura militar na década de 1980, movimentos de operários e trabalhadores por todo o país começaram a se reorganizar. Além de marcos importantes como as greves no ABC Paulista em 1978 e 1979 e a fundação do PT, surge nessa época a Central Única dos Trabalhadores (CUT), que rapidamente se tornaria a principal central sindical do país. De esquerda e defendendo uma atuação mais incisiva contra patrões e empresas a favor do trabalhador, a CUT dominou o sindicalismo brasileiro durante a década de 1980. Esta situação, no entanto, não durou muito tempo.

Já no final da década de 1980 começam a se organizar forças dentro do movimento sindical em oposição à CUT, defendendo posturas menos combativas e mais abertas à negociação direta com empregadores, sem interferência estatal e, principalmente, se opondo ao discurso socialista. Da articulação destes grupos, é fundada em 1991 a Força Sindical. O grupo se colocava como uma alternativa mais pragmática à CUT, que garantiria melhores resultados nas negociações com patrões por ser mais aberta a pautas como a privatização e por defender o uso de greves apenas como ‘último recurso de negociação’.

Em 1994, o metalúrgico Paulo Pereira da Silva, conhecido como Paulinho da Força, tornou-se presidente da Força Sindical, sendo líder da organização até hoje. Em 1994, Paulinho da Força se filiou ao PTB e em 2002 foi candidato à vice-presidência na chapa de Ciro Gomes, então no PPS. No ano seguinte, Silva migrou para o PDT e em 2004 ficou em quinto lugar na disputa pela prefeitura de São Paulo, mas, dois anos depois disso, se elegeu deputado federal por São Paulo.

Durante sua atuação como político e como presidente da Força Sindical, Paulinho da Força sempre se colocou como oposição aos governos do PT, partido que tem ligações fortes com a CUT. Em 2012, juntando-se a outros políticos ligados à Força Sindical, Paulinho funda o Solidariedade. O partido reuniu principalmente dissidências do PDT, mas contou também com políticos mais ao centro e à direita. Apesar de se colocar como oposição clara ao PT, Silva afirmou à época do registro oficial em 2013 que o partido era de esquerda.

Apto para concorrer às eleições gerais de 2014, o partido já chegou ao pleito com força significativa: 24 deputados federais, um senador, um vice-governador e mais de 200 prefeitos, cem vice-prefeitos e cerca de três mil vereadores. O grande número de políticos já empossados demonstrava a capilaridade da Força Sindical e a influência que tinha pelo país. Naquele ano, o partido integrou a coligação à presidência de Aécio Neves (PSDB) contra Dilma Rousseff (PT) e elegeu 15 deputados federais e 23 deputados estaduais. Firmado na oposição à petista reeleita, o Solidariedade passou a ser associado ao Centrão de Eduardo Cunha e votou em unanimidade pelo impedimento de Dilma em 2016.

Em 2018, o partido apoiou a candidatura tucana de Geraldo Alckmin. No segundo turno, o Solidariedade não apoiou oficialmente nenhum dos dois candidatos, dando liberdade a seus integrantes a votarem e apoiarem qualquer dos candidatos. A Força Sindical, no entanto, optou por apoiar a candidatura de Fernando Haddad (PT).

Hoje, o Solidariedade continua sendo um partido do bloco do Centrão na Câmara dos Deputados e atualmente apoia diversas medidas do governo de Jair Bolsonaro (sem partido), apesar de não integrar oficialmente a base aliada do governo. Seu presidente ainda é Paulinho da Força, que fora deputado federal até junho de 2020, quando foi condenado a 10 anos de prisão pelo STF por desvio de recursos do BNDES e forçado a renunciar a seu cargo público. O sindicalista recorreu à decisão e aguarda uma futura decisão da corte. O número do Solidariedade nas urnas é 77.

A história do Cidadania também remete às mudanças que ocorreram nas forças políticas de esquerda nas décadas de 1980 e 1990. Como descrito em outra matériadesta série, em meio a uma crise interna de identidade, o Partido Comunista Brasileiro (PCB) foi dissolvido por sua direção no X Congresso do partido em janeiro de 1992.

Apesar da dissolução da agremiação, seu registro junto ao TSE não foi cancelado. Logo após o Congresso, parte da liderança do PCB, sob o comando do deputado federal pernambucano Roberto Freire, renomeou a legenda para Partido Popular Socialista (PPS), decisão prontamente reconhecida pelo TSE. O grupo então abandonou o marxismo-leninismo, o horizonte político da revolução proletária e o fim da propriedade privada como parte de sua ideologia oficial, como uma resposta à dissolução do bloco soviéticoe e o fim das experiências socialistas reais do século XX. O partido, no entanto, ainda defendia uma transformação profunda da sociedade, tendo “como base teórica e princípios o humanismo e o socialismo, enriquecidos com a experiência libertária dos movimentos operários e populares, resgatando a melhor tradição do pensamento marxista”.

Ainda em 1992, o partido apoiou o impedimento do então presidente Fernando Collor. Nas eleições municipais daquele ano, o partido se coligou com diversas legendas de esquerda, liderando uma chapa vitoriosa pela prefeitura de Florianópolis (SC).

Apesar da simpatia de alguns líderes do partido por Fernando Henrique Cardoso (PSDB), a aliança do tucano com a direita fez o PPS apoiar a candidatura de Lula (PT) em 1994. Apesar da derrota de Lula, o presidente do partido Roberto Freire se elegeu senador. Além dele, dois outros dirigentes se elegeram deputados federais.

A simpatia do PPS por FHC levou o partido a apoiar várias pautas governistas em seus primeiros anos no parlamento. A proximidade levou à nomeação do então dirigente nacional do PPS Raul Jungmann para o comando do Ministério Extraordinário da Reforma Agrária. A aliança, porém, foi frágil e a legenda adotou uma política oficialmente oposicionista a partir de 1996.

Tanto em 1998 quanto em 2002, o PPS lançou Ciro Gomes como candidato à presidência, terminando em terceiro e quarto lugar em cada ano, respectivamente. Ciro tornou-se ministro de Lula em seu primeiro mandato, o que levou a um racha do partido em 2005 entre os que apoiavam e rejeitavam Lula. O embate culminou na expulsão de Ciro do PPS e o desembarque da legenda do governo. O partido manteve-se neutro na eleição de 2006, não apresentando candidato ou declarando apoio.

Em 2010, o PPS integrou a coligação de José Serra (PSDB) pela presidência, que terminou derrotada. Em 2014, o partido voltaria a apoiar um candidato mais à esquerda, coligando-se com a chapa do PSB de Eduardo Campos, substituído por Marina Silva após a morte de Campos. Em 2018, o partido apostou novamente nos tucanos, que terminaram em quarto lugar.

O PPS foi muito criticado por setores da esquerda por transitar entre o apoio a candidatos e governos tucanos e setores da centro-esquerda. Em 2016, quando o partido estava em vias de negociação para fundir-se ao PSB, líderes do partido taxaram o PPS de “linha auxiliar da direita” e “linha auxiliar do PSDB”. O processo de fusão não vingou.

Depois de uma série de negociações de fusões fracassadas, o partido passou por uma revisão ideológica em 2019. Em convenção, foi definida a adoção do nome Cidadania, decisão acatada pelo TSE em setembro daquele ano. Além do nome, o Cidadania abandonou de vez suas pretensões anticapitalistas e deixou de defender a social-democracia, defendendo o social-liberalismo e caracterizando se como progressista. O partido, no entanto, ainda se coloca como sendo de centro-esquerda e faz oposição ao governo Bolsonaro. Seu presidente ainda é Roberto Freire e o número nas urnas é 23.


Dados utilizados na matéria: Filiados a partidos (Tribunal Superior Eleitoral); Resultados eleições 2018 (TSE/Cepespdata); Candidatos eleições 2020 (TSE); Resultados eleições 2020 (TSE); IGPM (cortesia de Fernando Meireles, pacote deflateBR).

Contribuiu com dados: Antonio Piltcher.

Créditos da imagem: Marcos Oliveira/Agência Senado.

Para reproduzir os números citados, o código e os dados podem ser encontrados aqui.

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João Gado F. Costa é repórter do Pindograma.

Antonio Piltcher é cientista de dados do Pindograma.

Partidos em Números: Cidadania e Solidariedade

Gráficos, mapas e a história de dois partidos que dividem suas trajetórias entre a esquerda e a direita

Nesta edição do Partidos em Números, o Pindograma analisa os dados de dois partidos que dividem suas trajetórias entre a esquerda e a direita: o Solidariedade e o Cidadania.


Filiados

Desde sua fundação, o número de filiados ao Solidariedade cresceu em quase todos os anos, estabilizando apenas a partir de 2018 — um padrão incomum para a maioria das legendas brasileiras. Apesar do crescimento, o partido ainda tem um número de filiados menor que a maioria dos outros partidos, com cerca de 260 mil filiados atualmente.

Já o número de filiados do Cidadania está mais próximo de partidos; são cerca de 460 mil registrados no TSE. A legenda também apresenta um padrão incomum em seu número de filiados: entre anos de eleições municipais, o número de integrantes do partido diminuiu consideravelmente. No entanto, nos anos dos pleitos municipais, compartilha a tendência de crescimento da maioria das legendas.

O Solidariedade é um partido bem mais jovem que a maioria das legendas brasileiras. Um terço do partido tem até 34 anos — quase o dobro da média dos partidos do país. Em comparação, o Cidadania tem apenas um filiado jovem a cada 10 filiados.

Ambos os partidos seguem o típico padrão de proporção de sexo dos seus filiados: crescimento gradual ano a ano da porcentagem de mulheres, ficando em torno de 45% atualmente.

Ambos os partidos têm sua maior concentração de filiados no Mato Grosso. É importante ressaltar, no entanto, que a força desses partidos no estado é bem diferente: enquanto a taxa do Solidariedade é de 544 filiados por 100 mil habitantes, a concentração do Cidadania é de 1141, mais que o dobro.

Em geral, o Solidariedade tem mais força no restante do Centro Oeste e no Norte. O Cidadania também tem mais presença no Centro Oeste, além do Sul e alguns estados do Nordeste.


Financiamento

A proporção do fundo partidário que o Solidariedade recebe ficou próximo dos 3% desde 2014, ano em que participou de sua primeira eleição. Em 2020, o partido recebeu R$46.037.917,83 do Fundo Eleitoral.

O valor destinado ao Cidadania diminuiu significativamente depois de 2010. O partido nunca recuperou a influência que costumava ter no Congresso, levando a uma menor quantidade de verbas alocadas a ele. R$35.824.724,42 foram direcionados ao partido para as eleições de 2020 pelo Fundo Eleitoral.


Eleições 2020

O Solidariedade teve vários candidatos no Norte do estado do Rio de Janeiro, assim como no estado do Tocantins. Em menor grau, o partido teve vários candidatos em Minas Gerais e São Paulo e é mais fraco na Região Sul. No total, elegeu 94 prefeitos.

A maioria dos candidatos e dos 139 prefeitos eleitos do Cidadania estão concentrados nos estados do Sudeste e também no Paraná, Goiânia e Paraíba. A presença do partido na região Norte, assim como nos demais estados do Centro-Oeste, Sul e Nordeste, é quase nula.

Os candidatos dos dois partidos receberam apoio de quase todos os partidos, à exceção dos partidos mais à esquerda e do NOVO. O MDB, DEM e PSDB foram os maiores apoiadores do Solidariedade e Cidadania.

Em geral, os dois partidos também apoiaram as chapas dos mesmos partidos que os apoiaram — em geral do Centrão ou de centro-direita.

Assim como seus prefeitos candidatos e eleitos, os vereadores do Solidariedade se concentram no Norte do Rio de Janeiro e no Tocantins. O partido teve uma forte presença em Roraima, assim como em partes de Minas Gerais.

A distribuição dos candidatos a prefeito do Cidadania se assemelha muito à distribuição dos candidatos a vereador: estavam mais presentes no Sudeste, no Paraná, no Goiás e na Paraíba.

Já o perfil de raça e sexo do Cidadania foi mais próximo da maioria dos outros partidos: brancos foram o maior grupo de ambos os sexos e se elegeram mais que candidatos de outras identificações de raça e cor. As mulheres também tiveram um desempenho ruim: eram um terço dos candidatos e apenas 13,1% dos representantes eleitos.

O Solidariedade foi um dos poucos partidos cujos candidatos e eleitos foram, em sua maioria, pretos ou pardos. Na representatividade feminina, no entanto, teve desempenho ruim como a maioria dos partidos brasileiros — as mulheres eram 33,5% do total de candidatos e 15,3% do total de pessoas eleitas pela legenda.


Resultados em 2018

Ambos os partidos têm deputados estaduais eleitos em 16 estados por todas as regiões do país. O Solidariedade tem uma presença maior no Tocantins e em Roraima, já o Cidadania é maior em Alagoas.

O Solidariedade elegeu deputados federais em 12 estados. Proporcionalmente, o partido representa mais estados do Norte e Centro-Oeste. A bancada do partido na Câmara dos Deputados hoje é de 13 deputados.

Enquanto isso, o Cidadania elegeu seus deputados principalmente no Sul e Sudeste. O Espírito Santo é o estado que o partido mais representa proporcionalmente. Fora dessas regiões, o partido elegeu deputados no Distrito Federal e Pernambuco. O Cidadania tem 8 deputados no momento.

O Solidariedade elegeu o senador por Tocantins Eduardo Gomes em 2018. No entanto, o parlamentar deixou o partido pelo MDB em 2019.

Já o Cidadania elegeu dois senadores em 2018, pelo Maranhão e pelo Espírito Santo. Desde então, mais um senador — Jorge Kajuru, de Goiás — se juntou ao partido.

Nenhum dos dois partidos elegeu governadores em 2018.


História

Apesar de ter sido fundado apenas em 2012 — recebendo registro oficial junto ao TSE em 2013 —, a história do Solidariedade remonta ao final da década de 1980 e ao movimento sindical.

Durante o declínio da ditadura militar na década de 1980, movimentos de operários e trabalhadores por todo o país começaram a se reorganizar. Além de marcos importantes como as greves no ABC Paulista em 1978 e 1979 e a fundação do PT, surge nessa época a Central Única dos Trabalhadores (CUT), que rapidamente se tornaria a principal central sindical do país. De esquerda e defendendo uma atuação mais incisiva contra patrões e empresas a favor do trabalhador, a CUT dominou o sindicalismo brasileiro durante a década de 1980. Esta situação, no entanto, não durou muito tempo.

Já no final da década de 1980 começam a se organizar forças dentro do movimento sindical em oposição à CUT, defendendo posturas menos combativas e mais abertas à negociação direta com empregadores, sem interferência estatal e, principalmente, se opondo ao discurso socialista. Da articulação destes grupos, é fundada em 1991 a Força Sindical. O grupo se colocava como uma alternativa mais pragmática à CUT, que garantiria melhores resultados nas negociações com patrões por ser mais aberta a pautas como a privatização e por defender o uso de greves apenas como ‘último recurso de negociação’.

Em 1994, o metalúrgico Paulo Pereira da Silva, conhecido como Paulinho da Força, tornou-se presidente da Força Sindical, sendo líder da organização até hoje. Em 1994, Paulinho da Força se filiou ao PTB e em 2002 foi candidato à vice-presidência na chapa de Ciro Gomes, então no PPS. No ano seguinte, Silva migrou para o PDT e em 2004 ficou em quinto lugar na disputa pela prefeitura de São Paulo, mas, dois anos depois disso, se elegeu deputado federal por São Paulo.

Durante sua atuação como político e como presidente da Força Sindical, Paulinho da Força sempre se colocou como oposição aos governos do PT, partido que tem ligações fortes com a CUT. Em 2012, juntando-se a outros políticos ligados à Força Sindical, Paulinho funda o Solidariedade. O partido reuniu principalmente dissidências do PDT, mas contou também com políticos mais ao centro e à direita. Apesar de se colocar como oposição clara ao PT, Silva afirmou à época do registro oficial em 2013 que o partido era de esquerda.

Apto para concorrer às eleições gerais de 2014, o partido já chegou ao pleito com força significativa: 24 deputados federais, um senador, um vice-governador e mais de 200 prefeitos, cem vice-prefeitos e cerca de três mil vereadores. O grande número de políticos já empossados demonstrava a capilaridade da Força Sindical e a influência que tinha pelo país. Naquele ano, o partido integrou a coligação à presidência de Aécio Neves (PSDB) contra Dilma Rousseff (PT) e elegeu 15 deputados federais e 23 deputados estaduais. Firmado na oposição à petista reeleita, o Solidariedade passou a ser associado ao Centrão de Eduardo Cunha e votou em unanimidade pelo impedimento de Dilma em 2016.

Em 2018, o partido apoiou a candidatura tucana de Geraldo Alckmin. No segundo turno, o Solidariedade não apoiou oficialmente nenhum dos dois candidatos, dando liberdade a seus integrantes a votarem e apoiarem qualquer dos candidatos. A Força Sindical, no entanto, optou por apoiar a candidatura de Fernando Haddad (PT).

Hoje, o Solidariedade continua sendo um partido do bloco do Centrão na Câmara dos Deputados e atualmente apoia diversas medidas do governo de Jair Bolsonaro (sem partido), apesar de não integrar oficialmente a base aliada do governo. Seu presidente ainda é Paulinho da Força, que fora deputado federal até junho de 2020, quando foi condenado a 10 anos de prisão pelo STF por desvio de recursos do BNDES e forçado a renunciar a seu cargo público. O sindicalista recorreu à decisão e aguarda uma futura decisão da corte. O número do Solidariedade nas urnas é 77.

A história do Cidadania também remete às mudanças que ocorreram nas forças políticas de esquerda nas décadas de 1980 e 1990. Como descrito em outra matériadesta série, em meio a uma crise interna de identidade, o Partido Comunista Brasileiro (PCB) foi dissolvido por sua direção no X Congresso do partido em janeiro de 1992.

Apesar da dissolução da agremiação, seu registro junto ao TSE não foi cancelado. Logo após o Congresso, parte da liderança do PCB, sob o comando do deputado federal pernambucano Roberto Freire, renomeou a legenda para Partido Popular Socialista (PPS), decisão prontamente reconhecida pelo TSE. O grupo então abandonou o marxismo-leninismo, o horizonte político da revolução proletária e o fim da propriedade privada como parte de sua ideologia oficial, como uma resposta à dissolução do bloco soviéticoe e o fim das experiências socialistas reais do século XX. O partido, no entanto, ainda defendia uma transformação profunda da sociedade, tendo “como base teórica e princípios o humanismo e o socialismo, enriquecidos com a experiência libertária dos movimentos operários e populares, resgatando a melhor tradição do pensamento marxista”.

Ainda em 1992, o partido apoiou o impedimento do então presidente Fernando Collor. Nas eleições municipais daquele ano, o partido se coligou com diversas legendas de esquerda, liderando uma chapa vitoriosa pela prefeitura de Florianópolis (SC).

Apesar da simpatia de alguns líderes do partido por Fernando Henrique Cardoso (PSDB), a aliança do tucano com a direita fez o PPS apoiar a candidatura de Lula (PT) em 1994. Apesar da derrota de Lula, o presidente do partido Roberto Freire se elegeu senador. Além dele, dois outros dirigentes se elegeram deputados federais.

A simpatia do PPS por FHC levou o partido a apoiar várias pautas governistas em seus primeiros anos no parlamento. A proximidade levou à nomeação do então dirigente nacional do PPS Raul Jungmann para o comando do Ministério Extraordinário da Reforma Agrária. A aliança, porém, foi frágil e a legenda adotou uma política oficialmente oposicionista a partir de 1996.

Tanto em 1998 quanto em 2002, o PPS lançou Ciro Gomes como candidato à presidência, terminando em terceiro e quarto lugar em cada ano, respectivamente. Ciro tornou-se ministro de Lula em seu primeiro mandato, o que levou a um racha do partido em 2005 entre os que apoiavam e rejeitavam Lula. O embate culminou na expulsão de Ciro do PPS e o desembarque da legenda do governo. O partido manteve-se neutro na eleição de 2006, não apresentando candidato ou declarando apoio.

Em 2010, o PPS integrou a coligação de José Serra (PSDB) pela presidência, que terminou derrotada. Em 2014, o partido voltaria a apoiar um candidato mais à esquerda, coligando-se com a chapa do PSB de Eduardo Campos, substituído por Marina Silva após a morte de Campos. Em 2018, o partido apostou novamente nos tucanos, que terminaram em quarto lugar.

O PPS foi muito criticado por setores da esquerda por transitar entre o apoio a candidatos e governos tucanos e setores da centro-esquerda. Em 2016, quando o partido estava em vias de negociação para fundir-se ao PSB, líderes do partido taxaram o PPS de “linha auxiliar da direita” e “linha auxiliar do PSDB”. O processo de fusão não vingou.

Depois de uma série de negociações de fusões fracassadas, o partido passou por uma revisão ideológica em 2019. Em convenção, foi definida a adoção do nome Cidadania, decisão acatada pelo TSE em setembro daquele ano. Além do nome, o Cidadania abandonou de vez suas pretensões anticapitalistas e deixou de defender a social-democracia, defendendo o social-liberalismo e caracterizando se como progressista. O partido, no entanto, ainda se coloca como sendo de centro-esquerda e faz oposição ao governo Bolsonaro. Seu presidente ainda é Roberto Freire e o número nas urnas é 23.


Dados utilizados na matéria: Filiados a partidos (Tribunal Superior Eleitoral); Resultados eleições 2018 (TSE/Cepespdata); Candidatos eleições 2020 (TSE); Resultados eleições 2020 (TSE); IGPM (cortesia de Fernando Meireles, pacote deflateBR).

Contribuiu com dados: Antonio Piltcher.

Créditos da imagem: Marcos Oliveira/Agência Senado.

Para reproduzir os números citados, o código e os dados podem ser encontrados aqui.

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João Gado F. Costa

é repórter do Pindograma.

Antonio Piltcher

é cientista de dados do Pindograma.

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