A pouco menos de quatro meses das eleições de 2022, o Pindograma atualiza o seu ranking de institutos de pesquisa. Desde o seu lançamento em setembro de 2020, ele continua sendo a única classificação do desempenho das empresas de pesquisa brasileiras a partir de critérios objetivos.
Como escrevemos em 2020, “existem empresas de pesquisa que refletem adequadamente as intenções de voto nos seus levantamentos; assim como existem institutos que produzem resultados de baixa qualidade – seja de propósito, seja por incompetência”. O propósito do ranking do Pindograma é ajudar nossos leitores a fazerem essa distinção. Nesta época em que pesquisas eleitorais estão sujeitas a dúvidas e questionamentos incessantes, acreditamos que uma análise do desempenho passado dos institutos é mais importante do que nunca.
As mudanças
Desde a última atualização do ranking de institutos do Pindograma, pouco mudou. Às pesquisas analisadas, adicionamos:
- 171 sondagens referentes ao segundo turno das eleições de 2020; e
- cerca de 20 sondagens referentes a pleitos anteriores, que haviam sido ignoradas por nossa equipe.
Em termos de critérios do ranking, também foram poucas as mudanças. Em primeiro lugar, passamos a calcular o erro médio dos institutos a partir da média das diferenças absolutas entre os percentuais das pesquisas e os votos válidos na eleição, em vez do desvio padrão das diferenças com sinal entre as duas grandezas. Na primeira versão do Ranking, havíamos optado pelo desvio padrão, por medo que a média subestimasse o erro das pesquisas. O que notamos, contudo, é que a diferença entre os dois critérios é mínima, e a média tem a vantagem de ser mais intuitiva para nossos leitores.
Em segundo lugar, diminuímos pela metade o peso que a inscrição nos Conselhos Regionais de Estatística (CONREs) ou da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP) tem sobre a nota dos institutos. Antes, adicionávamos 30 pesquisas “neutras” ao histórico de cada instituto, cujo erro médio dependia do instituto ser ou não membro de um CONRE ou da ABEP — isso porque o site norte-americano FiveThirtyEight, no qual o Pindograma inspirou a metodologia do Ranking, usava o mesmo número. Agora, adicionamos apenas 15 pesquisas “neutras”, uma vez que, na média, os institutos brasileiros produzem muito menos pesquisas eleitorais que os norte-americanos. Sentimos, portanto, que fazer parte de um CONRE ou da ABEP estava exercendo um peso grande demais sobre a nossa classificação.
Nessa linha, o Pindograma ressalta que a lista de membros do CONRE-1 — que cobre institutos sediados em Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins e no Distrito Federal — está desatualizada. Diferentemente de todos os outros CONREs, o CONRE-1 descumpre a Lei de Acesso à Informação e se recusa a publicar a lista de empresas que pagam suas anuidades. O Pindograma entrou com um processo contra o Conselho para obter esta lista, mas até hoje, a causa não foi julgada. Assim que essa informação ficar disponível, iremos publicar nova atualização do Ranking.
Reflexões sobre a qualidade do ranking
Quando introduzimos o Ranking de Institutos em setembro de 2020, chegamos a uma conclusão que nos trouxe certa consternação: o desempenho passado dos institutos não parecia estar relacionado com o seu desempenho no futuro. À época, propusemos três hipóteses que poderiam explicar esse fenômeno: “(1) o Ranking foi mal feito; (2) a maioria dos institutos têm poucas pesquisas publicadas, e por isso, a relação entre desempenho passado e desempenho futuro não aparece nos dados; (3) a desempenho passado dos institutos de pesquisa no Brasil realmente não é um indicador para o desempenho futuro”.
Avaliando o desempenho do Ranking no pleito de 2020, é possível rever algumas dessas hipóteses:
Com base no gráfico, não nos parece que o ranking foi mal feito. Fica claro que a nota dos institutos com base nos pleitos de 2012, 2014, 2016 e 2018 está correlacionada com o desempenho dos institutos em 2020.
Dito isso, as outras duas hipóteses também parecem estar corretas em certa medida. Por um lado, o maior número de pesquisas na nossa base de dados aumentou o poder de predição do Ranking. Por outro lado, a correlação entre as notas dos institutos em 2012-2018 e o desempenho em 2020 está longe de ser perfeita.
O gráfico parece sugerir algumas conclusões. Em primeiro lugar, entre os institutos com histórico de acertos relativamente bom (notas A e B+), é difícil prever qual deles vai ter o melhor desempenho nas próximas eleições. Isso confirma a postura editorial que o Pindograma já vinha tomando com relação às pesquisas eleitorais. Em nossas análises, evitamos privilegiar certos institutos ou metodologias sobre outros — desde que tenham uma nota alta em nosso Ranking. É uma postura que vai na direção oposta dos nossos colegas no Estadão, por exemplo, que dão peso maior às pesquisas presenciais.
Já da nota B para baixo, quanto pior a nota, pior parece ser o desempenho nas próximas eleições. Dar um peso menor para os institutos com esse desempenho parece ser razoável, e é um passo que o Pindograma deve tomar nas análises que vamos publicar sobre as eleições de 2022.
Como de praxe, o código que usamos para gerar o Ranking está completamente aberto, assim como os dados que usamos para gerá-lo. Além disso, estamos sempre abertos (e ansiosos) para discutir a avaliação de pesquisas eleitorais e para receber contribuições de nossos leitores. Basta mandar um email para redacao@pindograma.com.br.
Dados utilizados na matéria: Banco de Dados de Pesquisas Eleitorais (Pindograma, Poder360).
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