Por que a diferença entre as pesquisas eleitorais recentes?


Considerando as cinco pesquisas recentes em conjunto, Lula e Bolsonaro estão praticamente empatados
POR DANIEL FERREIRA • 14/05/2021

Durante os últimos quinze dias, cinco institutos de pesquisa brasileiros publicaram intenções de voto para as eleições de 2022. O Datafolha deu uma vantagem colossal para Lula contra Bolsonaro no primeiro turno; já o DataPoder e o Ipespe indicaram um empate entre os dois, enquanto o Atlas e o Paraná Pesquisas deram uma vantagem leve para Bolsonaro.

Algumas Pesquisas Eleitorais Recentes (30/4 - 12/5)
Datafolha
(11/5-12/5)
PoderData
(10/5-12/5)
Ipespe
(4/5-7/5)
Atlas
(6/5-9/5)
Paraná
(30/4-4/5)
Lula 41,0 32,0 29,0 33,2 29,3
Bolsonaro 23,0 32,0 29,0 37,0 32,7
Sergio Moro 7,0 4,0 8,0 4,9 5,8
Ciro Gomes 6,0 6,0 9,0 5,7 6,2
Luciano Huck 4,0 4,0 5,0 2,1 5,8
João Doria 3,0 4,0 3,0 1,8 3,6
Luiz Henrique Mandetta 2,0 3,0 3,0 3,4 1,4
Branco/Nulo/NS 13,0 10,0 14,0 4,5 12,6
João Amoêdo 2,0 5,0 0,0 1,5 2,6
Guilherme Boulos 2,0
Marina Silva 1,3
Danilo Gentili 2,0
Eduardo Leite 1,1
Tasso Jereissati 0,7
Alexandre Kalil 0,6
Michel Temer 0,2
Fonte: Datafolha, Ipespe, PoderData, Atlas Político, Paraná Pesquisas

Desde ontem, analistas têm dado duas explicações para essa diferença entre o Datafolha e seus concorrentes. A primeira é que o Datafolha seria mais ou menos competente do que os outros institutos. Muitos bolsonaristas atacam a empresa como pouco confiável, enquanto outras pessoas defendem o histórico do instituto.

Os dados do Pindograma mostram que essa explicação está completamente equivocada. Datafolha, Atlas, Paraná Pesquisas e Ipespe todos têm bom desempenho (notas A ou B+) no nosso Ranking de Institutos de Pesquisa, que considera o histórico de acertos dos institutos entre 2012 e 2020. Já o PoderData não pôde ser avaliado porque produziu muito poucas pesquisas eleitorais até agora. Em outras palavras: nada indica que devemos confiar muito mais (ou menos) no histórico do Datafolha que no de outros institutos.

A segunda explicação para a diferença nos resultados é que a metodologia do Datafolha seria diferente. O Datafolha é o único instituto que fez uma pesquisa presencial, isto é, entrevistando pessoas nas ruas. Ipespe, Paraná e PoderData fizeram pesquisas telefônicas, enquanto o Atlas usou uma metodologia de coleta online.

Para alguns, a metodologia presencial seria superior à não-presencial e, por isso, deveríamos confiar mais no Datafolha. Já outros argumentam que pesquisas presenciais funcionariam mal no contexto da pandemia, uma vez que transeuntes tenderiam a evitar responder um questionário aplicado por um estranho de máscara na rua.

Ambos os lados têm bons argumentos. Entre as pesquisas nacionais para presidente em 2018, as presenciais tiveram desempenho melhor que o das telefônicas, em média. O erro médio das pesquisas presenciais conduzidas a três semanas ou menos do primeiro turno, ou a duas semanas ou menos do segundo turno, foi de 3,4 pontos percentuais. Já o erro médio das telefônicas foi de 4,2 pontos percentuais. Se levarmos em consideração o número de dias entre a pesquisa e a eleição ao calcular essa média, a diferença se mantém.

Por outro lado, no contexto da pandemia, as telefônicas tiveram um desempenho levemente melhor que o das presenciais. Nas eleições municipais de 2020, as pesquisas não-presenciais tiveram erro médio de 4,3 pontos percentuais nas capitais em que foram realizadas, comparado a um erro de 4,8 pontos percentuais entre as presenciais nas mesmas cidades.

Outra discussão metodológica gira em torno da ponderação por preferência política. Trata-se de achar a melhor resposta para a seguinte pergunta: dado que 55% dos brasileiros votaram em Bolsonaro em 2018, isso quer dizer que 55% dos entrevistados por uma pesquisa em 2021 deveriam dizer que votaram em Bolsonaro em 2018? A resposta do Atlas é sim — e suas amostras são calibradas para que isso ocorra. O diretor do Datafolha, por outro lado, afirma que “as pessoas esquecem em quem votou ou, conforme a conjuntura, preferem esconder qual foi o voto [na última eleição]”. Por isso, o instituto não leva em consideração o comportamento político passado. No Brasil, não dispomos de dados históricos para avaliar qual lado do debate produz melhores resultados.


No Pindograma, não escolhemos nenhum dos lados. Em vez disso, preferimos agregar pesquisas que usam diferentes metodologias. Assim, neutralizamos os vieses que um ou outro método possa ter e levamos em consideração o máximo de informação possível na nossa análise. Foi o que fizemos durante as eleições municipais e o que fazemos agora com essas últimas pesquisas de intenção de voto presidencial:

Média Simples das Intenções de Voto
Em pesquisas eleitorais recentes (30/4 - 12/5)
Candidato Média
Lula 32,9
Bolsonaro 30,7
Branco/Nulo/NS 10,8
Ciro Gomes 6,6
Sergio Moro 5,9
Luciano Huck 4,2
João Doria 3,1
Luiz Henrique Mandetta 2,6
João Amoêdo 2,2
Fonte: Datafolha, Ipespe, PoderData, Atlas Político, Paraná Pesquisas. Foram excluídos candidatos que não aparecem em todas as pesquisas.

O resultado? Lula e Bolsonaro estão praticamente empatados nas preferências do eleitorado, com uma ligeira vantagem para Lula. Por isso, nós do Pindograma teríamos cautela antes de argumentar que o petista tem ampla vantagem sobre Bolsonaro. Não por duvidar do Datafolha, mas por acreditar que suas pesquisas têm o mesmo valor que as da concorrência.


Dados utilizados na matéria: Resultados de Pesquisas Eleitorais (Pindograma); Resultados das Eleições (Tribunal Superior Eleitoral).

Para reproduzir os números citados na matéria, os dados e o código podem ser encontrados aqui.

Créditos da imagem: Rovena Rosa/Agência Brasil, José Cruz/Agência Brasil, Alan Santos/PR.

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Daniel Ferreira é editor do Pindograma.

Por que a diferença entre as pesquisas eleitorais recentes?

Considerando as cinco pesquisas recentes em conjunto, Lula e Bolsonaro estão praticamente empatados

POR DANIEL FERREIRA

14/05/2021

Durante os últimos quinze dias, cinco institutos de pesquisa brasileiros publicaram intenções de voto para as eleições de 2022. O Datafolha deu uma vantagem colossal para Lula contra Bolsonaro no primeiro turno; já o DataPoder e o Ipespe indicaram um empate entre os dois, enquanto o Atlas e o Paraná Pesquisas deram uma vantagem leve para Bolsonaro.

Algumas Pesquisas Eleitorais Recentes (30/4 - 12/5)
Datafolha
(11/5-12/5)
PoderData
(10/5-12/5)
Ipespe
(4/5-7/5)
Atlas
(6/5-9/5)
Paraná
(30/4-4/5)
Lula 41,0 32,0 29,0 33,2 29,3
Bolsonaro 23,0 32,0 29,0 37,0 32,7
Sergio Moro 7,0 4,0 8,0 4,9 5,8
Ciro Gomes 6,0 6,0 9,0 5,7 6,2
Luciano Huck 4,0 4,0 5,0 2,1 5,8
João Doria 3,0 4,0 3,0 1,8 3,6
Luiz Henrique Mandetta 2,0 3,0 3,0 3,4 1,4
Branco/Nulo/NS 13,0 10,0 14,0 4,5 12,6
João Amoêdo 2,0 5,0 0,0 1,5 2,6
Guilherme Boulos 2,0
Marina Silva 1,3
Danilo Gentili 2,0
Eduardo Leite 1,1
Tasso Jereissati 0,7
Alexandre Kalil 0,6
Michel Temer 0,2
Fonte: Datafolha, Ipespe, PoderData, Atlas Político, Paraná Pesquisas

Desde ontem, analistas têm dado duas explicações para essa diferença entre o Datafolha e seus concorrentes. A primeira é que o Datafolha seria mais ou menos competente do que os outros institutos. Muitos bolsonaristas atacam a empresa como pouco confiável, enquanto outras pessoas defendem o histórico do instituto.

Os dados do Pindograma mostram que essa explicação está completamente equivocada. Datafolha, Atlas, Paraná Pesquisas e Ipespe todos têm bom desempenho (notas A ou B+) no nosso Ranking de Institutos de Pesquisa, que considera o histórico de acertos dos institutos entre 2012 e 2020. Já o PoderData não pôde ser avaliado porque produziu muito poucas pesquisas eleitorais até agora. Em outras palavras: nada indica que devemos confiar muito mais (ou menos) no histórico do Datafolha que no de outros institutos.

A segunda explicação para a diferença nos resultados é que a metodologia do Datafolha seria diferente. O Datafolha é o único instituto que fez uma pesquisa presencial, isto é, entrevistando pessoas nas ruas. Ipespe, Paraná e PoderData fizeram pesquisas telefônicas, enquanto o Atlas usou uma metodologia de coleta online.

Para alguns, a metodologia presencial seria superior à não-presencial e, por isso, deveríamos confiar mais no Datafolha. Já outros argumentam que pesquisas presenciais funcionariam mal no contexto da pandemia, uma vez que transeuntes tenderiam a evitar responder um questionário aplicado por um estranho de máscara na rua.

Ambos os lados têm bons argumentos. Entre as pesquisas nacionais para presidente em 2018, as presenciais tiveram desempenho melhor que o das telefônicas, em média. O erro médio das pesquisas presenciais conduzidas a três semanas ou menos do primeiro turno, ou a duas semanas ou menos do segundo turno, foi de 3,4 pontos percentuais. Já o erro médio das telefônicas foi de 4,2 pontos percentuais. Se levarmos em consideração o número de dias entre a pesquisa e a eleição ao calcular essa média, a diferença se mantém.

Por outro lado, no contexto da pandemia, as telefônicas tiveram um desempenho levemente melhor que o das presenciais. Nas eleições municipais de 2020, as pesquisas não-presenciais tiveram erro médio de 4,3 pontos percentuais nas capitais em que foram realizadas, comparado a um erro de 4,8 pontos percentuais entre as presenciais nas mesmas cidades.

Outra discussão metodológica gira em torno da ponderação por preferência política. Trata-se de achar a melhor resposta para a seguinte pergunta: dado que 55% dos brasileiros votaram em Bolsonaro em 2018, isso quer dizer que 55% dos entrevistados por uma pesquisa em 2021 deveriam dizer que votaram em Bolsonaro em 2018? A resposta do Atlas é sim — e suas amostras são calibradas para que isso ocorra. O diretor do Datafolha, por outro lado, afirma que “as pessoas esquecem em quem votou ou, conforme a conjuntura, preferem esconder qual foi o voto [na última eleição]”. Por isso, o instituto não leva em consideração o comportamento político passado. No Brasil, não dispomos de dados históricos para avaliar qual lado do debate produz melhores resultados.


No Pindograma, não escolhemos nenhum dos lados. Em vez disso, preferimos agregar pesquisas que usam diferentes metodologias. Assim, neutralizamos os vieses que um ou outro método possa ter e levamos em consideração o máximo de informação possível na nossa análise. Foi o que fizemos durante as eleições municipais e o que fazemos agora com essas últimas pesquisas de intenção de voto presidencial:

Média Simples das Intenções de Voto
Em pesquisas eleitorais recentes (30/4 - 12/5)
Candidato Média
Lula 32,9
Bolsonaro 30,7
Branco/Nulo/NS 10,8
Ciro Gomes 6,6
Sergio Moro 5,9
Luciano Huck 4,2
João Doria 3,1
Luiz Henrique Mandetta 2,6
João Amoêdo 2,2
Fonte: Datafolha, Ipespe, PoderData, Atlas Político, Paraná Pesquisas. Foram excluídos candidatos que não aparecem em todas as pesquisas.

O resultado? Lula e Bolsonaro estão praticamente empatados nas preferências do eleitorado, com uma ligeira vantagem para Lula. Por isso, nós do Pindograma teríamos cautela antes de argumentar que o petista tem ampla vantagem sobre Bolsonaro. Não por duvidar do Datafolha, mas por acreditar que suas pesquisas têm o mesmo valor que as da concorrência.


Dados utilizados na matéria: Resultados de Pesquisas Eleitorais (Pindograma); Resultados das Eleições (Tribunal Superior Eleitoral).

Para reproduzir os números citados na matéria, os dados e o código podem ser encontrados aqui.

Créditos da imagem: Rovena Rosa/Agência Brasil, José Cruz/Agência Brasil, Alan Santos/PR.

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é editor do Pindograma.

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