Gestão de Pazuello não afetou popularidade dos militares


Para 50% dos eleitores, presença de militares no governo Bolsonaro é positiva
POR PEDRO SIEMSEN • 29/03/2021

O governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) é o que tem a maior presença de militares desde a redemocratização. Ávido defensor da ditadura militar, o presidente abriu o caminho para diversos membros das Forças Armadas dentro de ministérios e agências regulatórias nos últimos anos.

Um desses militares destacou-se nos últimos meses pela sua péssima atuação: o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello. Conhecido como ‘pesadelo’ nos corredores do Congresso, o general de brigada cometeu incontáveis erros na gestão contra a pandemia do novo coronavírus e está sob grande pressão de ser investigado por ações ilegais quando deixar o ministério e perder o foro privilegiado.

Nesse contexto, não impressiona que algumas vozes da sociedade civil afirmem que a ligação dos militares com o atual governo esteja acabando com a imagem de que os oficiais são técnicos competentes, cultivada pelos fardados desde a redemocratização.

Parece natural presumir que, dados os inúmeros casos de incompetência, o governo mais militar da Nova República pioraria a imagem do Exército para a população. Porém, não é isso que está ocorrendo. As Forças Armadas ainda gozam de muita confiança dos brasileiros. E não parece que esse cenário irá mudar tão cedo.


Diversos levantamentos revelam que uma maioria significativa da sociedade confia mais nos militares do que em outras instituições nacionais. Segundo o Datafolha, 42% confiavam muito e 38% confiavam “um pouco” nos militares em julho de 2019, somando 80% de confiança. Esse grau de confiança foi muito menor para outras instituições, como o Congresso Nacional (53%) e os partidos políticos (40%), que gozam de grande desconfiança. Só o Judiciário não ficou tão mal: em 2019, 72% dos brasileiros afirmaram confiar muito ou “um pouco” nos tribunais.

Mais recentemente, alguns levantamentos do DataPoder360 e Paraná Pesquisas — dois institutos com bom desempenho no ranking do Pindograma — mostram que o cenário continua bem parecido.

Em junho de 2020, quando Pazuello completava um mês no Ministério da Saúde após a renúncia de Nelson Teich, um levantamento do DataPoder360 mostrou que 37% dos brasileiros acreditavam que a presença de militares no governo era “boa para o Brasil”. Segundo a mesma pesquisa, 79% dos brasileiros afirmaram que confiavam muito, confiavam mais ou menos ou confiavam um pouco nas Forças Armadas. Nos primórdios da gestão Pazuello, os militares ainda mantinham alta aprovação da população.

No momento em que a gestão Pazuello chegava ao fim, o Instituto Paraná Pesquisas voltou ao assunto. O general apresentou um desgaste na opinião pública: 44,3% dos brasileiros afirmam que sua gestão foi “negativa”. Porém, sua rejeição — o ‘efeito pesadelo’ — não parece ter transbordado para a instituição da qual faz parte. Nessa mesma pesquisa, 50% afirmaram que a presença militar no governo Bolsonaro era “positiva”. Esse número representa até um crescimento em relação aos 37% que acreditavam, dez meses antes, que militares no governo eram algo bom para o país.

Além disso, 53,5% afirmaram que a participação dos militares na pandemia foi “positiva”. Isso reforça a ideia de que a incompetência de Pazuello e seu desgaste público não transbordaram para seus colegas, muitos dos quais participaram de decisões mortais do Ministério da Saúde que foram questionadas pela sociedade durante os últimos meses.

Será interessante analisar se a tendência recente de aumento na rejeição do presidente Bolsonaro indicada por algumas pesquisas será seguida por um aumento na desconfiança frente aos militares. Afinal, o mesmo levantamento do Paraná Pesquisas mostrou que 56,9% acreditavam que o presidente era mais militar do que civil. Mas por ora, apenas 43,7% dos brasileiros acreditam que a participação no governo Bolsonaro compromete a imagem dos militares.

De fato, parece que o apoio militar continua dando legitimidade ao governo. 40,3% afirmaram ao Paraná Pesquisas que o fato do atual governo ter presença militar tem implicações positivas na hora do voto. Uma parcela significativa do eleitorado ainda gosta da possibilidade de ter militares no governo, o que pode ser um indicador positivo para a campanha de Bolsonaro em 2022.

Considerando todos esses fatores, não é correto afirmar que os militares estão saindo muito desgastados da gestão da pandemia até agora. Pazuello, de fato, perdeu muita popularidade. Porém, a opinião pública parece separar Pazuello de sua instituição e seus colegas. Os outros militares, principalmente os associados a Bolsonaro, continuam contando com a confiança da maioria da população e atribuindo mais legitimidade ao governo nos olhos dessas pessoas.


Contribuiu com dados: Daniel Ferreira.

Para reproduzir os números e gráficos citados na matéria, o código pode ser consultado aqui.

Créditos da imagem: Exército Brasileiro, Mário Oliveira/SEMCOM.

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Pedro Siemsen é repórter do Pindograma.

Gestão de Pazuello não afetou popularidade dos militares

Para 50% dos eleitores, presença de militares no governo Bolsonaro é positiva

POR PEDRO SIEMSEN

29/03/2021

O governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) é o que tem a maior presença de militares desde a redemocratização. Ávido defensor da ditadura militar, o presidente abriu o caminho para diversos membros das Forças Armadas dentro de ministérios e agências regulatórias nos últimos anos.

Um desses militares destacou-se nos últimos meses pela sua péssima atuação: o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello. Conhecido como ‘pesadelo’ nos corredores do Congresso, o general de brigada cometeu incontáveis erros na gestão contra a pandemia do novo coronavírus e está sob grande pressão de ser investigado por ações ilegais quando deixar o ministério e perder o foro privilegiado.

Nesse contexto, não impressiona que algumas vozes da sociedade civil afirmem que a ligação dos militares com o atual governo esteja acabando com a imagem de que os oficiais são técnicos competentes, cultivada pelos fardados desde a redemocratização.

Parece natural presumir que, dados os inúmeros casos de incompetência, o governo mais militar da Nova República pioraria a imagem do Exército para a população. Porém, não é isso que está ocorrendo. As Forças Armadas ainda gozam de muita confiança dos brasileiros. E não parece que esse cenário irá mudar tão cedo.


Diversos levantamentos revelam que uma maioria significativa da sociedade confia mais nos militares do que em outras instituições nacionais. Segundo o Datafolha, 42% confiavam muito e 38% confiavam “um pouco” nos militares em julho de 2019, somando 80% de confiança. Esse grau de confiança foi muito menor para outras instituições, como o Congresso Nacional (53%) e os partidos políticos (40%), que gozam de grande desconfiança. Só o Judiciário não ficou tão mal: em 2019, 72% dos brasileiros afirmaram confiar muito ou “um pouco” nos tribunais.

Mais recentemente, alguns levantamentos do DataPoder360 e Paraná Pesquisas — dois institutos com bom desempenho no ranking do Pindograma — mostram que o cenário continua bem parecido.

Em junho de 2020, quando Pazuello completava um mês no Ministério da Saúde após a renúncia de Nelson Teich, um levantamento do DataPoder360 mostrou que 37% dos brasileiros acreditavam que a presença de militares no governo era “boa para o Brasil”. Segundo a mesma pesquisa, 79% dos brasileiros afirmaram que confiavam muito, confiavam mais ou menos ou confiavam um pouco nas Forças Armadas. Nos primórdios da gestão Pazuello, os militares ainda mantinham alta aprovação da população.

No momento em que a gestão Pazuello chegava ao fim, o Instituto Paraná Pesquisas voltou ao assunto. O general apresentou um desgaste na opinião pública: 44,3% dos brasileiros afirmam que sua gestão foi “negativa”. Porém, sua rejeição — o ‘efeito pesadelo’ — não parece ter transbordado para a instituição da qual faz parte. Nessa mesma pesquisa, 50% afirmaram que a presença militar no governo Bolsonaro era “positiva”. Esse número representa até um crescimento em relação aos 37% que acreditavam, dez meses antes, que militares no governo eram algo bom para o país.

Além disso, 53,5% afirmaram que a participação dos militares na pandemia foi “positiva”. Isso reforça a ideia de que a incompetência de Pazuello e seu desgaste público não transbordaram para seus colegas, muitos dos quais participaram de decisões mortais do Ministério da Saúde que foram questionadas pela sociedade durante os últimos meses.

Será interessante analisar se a tendência recente de aumento na rejeição do presidente Bolsonaro indicada por algumas pesquisas será seguida por um aumento na desconfiança frente aos militares. Afinal, o mesmo levantamento do Paraná Pesquisas mostrou que 56,9% acreditavam que o presidente era mais militar do que civil. Mas por ora, apenas 43,7% dos brasileiros acreditam que a participação no governo Bolsonaro compromete a imagem dos militares.

De fato, parece que o apoio militar continua dando legitimidade ao governo. 40,3% afirmaram ao Paraná Pesquisas que o fato do atual governo ter presença militar tem implicações positivas na hora do voto. Uma parcela significativa do eleitorado ainda gosta da possibilidade de ter militares no governo, o que pode ser um indicador positivo para a campanha de Bolsonaro em 2022.

Considerando todos esses fatores, não é correto afirmar que os militares estão saindo muito desgastados da gestão da pandemia até agora. Pazuello, de fato, perdeu muita popularidade. Porém, a opinião pública parece separar Pazuello de sua instituição e seus colegas. Os outros militares, principalmente os associados a Bolsonaro, continuam contando com a confiança da maioria da população e atribuindo mais legitimidade ao governo nos olhos dessas pessoas.


Contribuiu com dados: Daniel Ferreira.

Para reproduzir os números e gráficos citados na matéria, o código pode ser consultado aqui.

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