O desempenho das pesquisas no primeiro turno de 2020


Pandemia não parece ter afetado muito a utilidade das pesquisas
POR DANIEL FERREIRA • 20/11/2020

Desde seu lançamento, o Pindograma disponibiliza aos leitores nosso ranking de institutos de pesquisa. Com base em 2.644 pesquisas eleitorais publicadas a três semanas ou menos dos últimos quatro pleitos (2012 a 2018), construímos a primeira avaliação objetiva dos institutos de pesquisa brasileiros. Agora, com os resultados do primeiro turno das eleições de 2020 em mãos, chegou a hora de atualizar esta avaliação.

Este ano, a equipe do Pindograma — especialmente nosso assistente de pesquisa, Pedro Fonseca — coletou 1.547 novas pesquisas que entraram no cálculo da nota dos institutos. A comparação destas pesquisas com o resultado das eleições mostra que:

  • O erro médio dos institutos de pesquisa nas capitais este ano foi de 4,2 pontos percentuais — próximo da margem de erro de 3 pontos percentuais que os institutos geralmente declaram. Foi um desempenho melhor que o de 2016 e parecido com o de 2012.

  • Já no país como um todo, o erro médio foi de 6,3 pontos percentuais. Foi um desempenho pior que o das duas eleições municipais anteriores.

  • A maioria dos institutos de pesquisa mantiveram suas posições no nosso ranking.

O ranking atualizado pode ser consultado no link de sempre, e o ranking anterior passa para o nosso arquivo. Abaixo, mais detalhes sobre o que mudou nas pesquisas deste ano.

Desempenho das pesquisas

A grosso modo, há duas formas de avaliar o desempenho de uma pesquisa eleitoral. Podemos verificar se ela indicou corretamente quem venceria a eleição ou podemos avaliar quão distantes as intenções de voto ficaram dos resultados finais do pleito.

O problema do primeiro critério é que ele é frequentemente injusto ao comparar pesquisas diferentes. Imagine que uma pesquisa tenha dado 49% das intenções de voto para o candidato Bob e 51% para a candidata Alice. Se Bob acaba vencendo com 52% dos votos, é injusto tratar essa pesquisa como tão “errada” quanto outra pesquisa que tenha dado 40% das intenções de voto para Bob e 60% para Alice.

Por esse motivo, o principal indicador que usamos para avaliar o desempenho de uma pesquisa é o erro percentual médio. Basicamente, calculamos a diferença entre as intenções de voto de uma pesquisa e os resultados da eleição para cada candidato. A seguir, calculamos uma média (ajustada) dessas diferenças. Uma pesquisa com erro médio de 1 ponto percentual é excelente. Já uma pesquisa com erro médio de 10 pontos percentuais terá cometido um erro crasso ao avaliar as intenções de voto.

Por essa métrica, o desempenho do mercado de pesquisas melhorou nas capitais, mas piorou no país como um todo:

Erro Médio de Pesquisas Eleitorais (Primeiro Turno)
Erro Médio (capitais) Erro Médio (Brasil)
2012 4,25 4,88
2016 4,99 6,03
2020 4,15 6,26

Há duas hipóteses que podem explicar esse descompasso. A primeira é que nos anos anteriores, pesquisas de baixa qualidade publicadas no interior do país não chegavam à Internet e, por isso, não eram indexadas pelo Pindograma. Em 2020, pode ter sido mais fácil encontrar esses levantamentos, que podem ter aumentado a média de erro das pesquisas deste ano. A segunda hipótese é que, este ano, o eleitor das cidades do interior tenha demorado mais para decidir o seu voto, dificultando o trabalho das pesquisas no geral. Esta demora pode ser um reflexo das campanhas menos presenciais devido à pandemia.

De toda forma, os efeitos da Covid sobre as pesquisas eleitorais não parecem ter sido muito grandes. Ao que tudo indica, não houve um aumento da abstenção a ponto de criar um abismo entre as intenções de voto e os resultados das eleições. Os institutos também parecem ter lidado bem com mudanças no perfil de quem responde as pesquisas eleitorais durante a pandemia — pesquisas feitas em ponto de fluxo, por exemplo, poderiam ter sido facilmente enviesadas, dado que o perfil das pessoas que saem de casa nesse contexto não é necessariamente o mesmo do eleitorado como um todo. Mas não foi o que aconteceu.

Erro Médio nas dez maiores capitais (Primeiro Turno, 2020)
Cidade Erro Médio
Curitiba 2,16
Salvador 2,44
Rio De Janeiro 2.61
Fortaleza 2,95
Goiânia 3,06
Belo Horizonte 3,93
São Paulo 3,96
Manaus 4,05
Recife 4,37
Belém 6,26
Resultados do Ranking

O erro percentual médio funciona razoavelmente bem para estimar a utilidade das pesquisas eleitorais como um todo no Brasil. No entanto, é injusto usá-lo por si só para comparar o desempenho de pesquisas diferentes.

É natural, por exemplo, que uma pesquisa feita a cinco dias da eleição tenha um erro percentual médio maior que outra feita na véspera do pleito. Também não é justo comparar pesquisas feitas em pleitos mais estáveis com outras feitas em municípios nos quais um número maior de eleitores decide seu voto na frente da urna. O papel do Ranking de Institutos de Pesquisa do Pindograma é levar fatores como esse em consideração para estabelecer uma comparação mais justa entre as empresas de pesquisa brasileiras.

Os resultados do ranking atualizado com dados de 2020 confirmam, em grande parte, os resultados do levantamento anterior. Na primeira versão do ranking, cada instituto recebeu uma nota entre A, B+, B, B-, C e D. Após a atualização, apenas um instituto mudou duas notas no ranking: o Paraná Pesquisas, que pulou da nota B para A. De resto, nenhum instituto melhorou ou piorou sua classificação em mais de uma nota. O primeiro colocado no ranking, o Instituto Opinião, manteve sua posição. Da mesma forma, os maiores institutos do país — Ibope e Datafolha — continuam entre as melhores empresas de pesquisa.

A atualização também revelou novos institutos cujo desempenho pífio merece investigação. É o caso do instituto matogrossense Olhar Dados, também conhecido como Malujoa Comunicações. As pesquisas da empresa tiveram um erro médio de 15 pontos percentuais, um novo recorde de mau desempenho no ranking do Pindograma.

Metodologia

Os critérios do ranking permaneceram exatamente os mesmos que utilizamos para calcular a nota dos institutos antes da eleição de 2020. Apenas os dados foram atualizados.

Isso não quer dizer que a metodologia do ranking seja irretocável. O Pindograma está certo de que uma análise mais criteriosa das pesquisas eleitorais de 2020 irá inspirar mudanças em alguns dos critérios que utilizamos para avaliar os institutos. No entanto, esse tipo de análise requer, mais de duas semanas; e julgamos que uma atualização do Ranking antes do segundo turno seria valiosa para nossos leitores. Com ela, esperamos qualificar o debate sobre pesquisas eleitorais nas 57 cidades que ainda não decidiram quem as governará pelos próximos quatro anos.


Dados utilizados na matéria: Resultados de Pesquisas Eleitorais (Pindograma); Resultados de Eleições (Tribunal Superior Eleitoral).

Contribuiu com dados: Pedro Fonseca.

Crédito das imagens: Midia Ninja/Wikimedia Commons, Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo

Para reproduzir os números citados, os dados e o código podem ser encontrados aqui.

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Daniel Ferreira é editor do Pindograma.

O desempenho das pesquisas no primeiro turno de 2020

Pandemia não parece ter afetado muito a utilidade das pesquisas

POR DANIEL FERREIRA

20/11/2020

Desde seu lançamento, o Pindograma disponibiliza aos leitores nosso ranking de institutos de pesquisa. Com base em 2.644 pesquisas eleitorais publicadas a três semanas ou menos dos últimos quatro pleitos (2012 a 2018), construímos a primeira avaliação objetiva dos institutos de pesquisa brasileiros. Agora, com os resultados do primeiro turno das eleições de 2020 em mãos, chegou a hora de atualizar esta avaliação.

Este ano, a equipe do Pindograma — especialmente nosso assistente de pesquisa, Pedro Fonseca — coletou 1.547 novas pesquisas que entraram no cálculo da nota dos institutos. A comparação destas pesquisas com o resultado das eleições mostra que:

  • O erro médio dos institutos de pesquisa nas capitais este ano foi de 4,2 pontos percentuais — próximo da margem de erro de 3 pontos percentuais que os institutos geralmente declaram. Foi um desempenho melhor que o de 2016 e parecido com o de 2012.

  • Já no país como um todo, o erro médio foi de 6,3 pontos percentuais. Foi um desempenho pior que o das duas eleições municipais anteriores.

  • A maioria dos institutos de pesquisa mantiveram suas posições no nosso ranking.

O ranking atualizado pode ser consultado no link de sempre, e o ranking anterior passa para o nosso arquivo. Abaixo, mais detalhes sobre o que mudou nas pesquisas deste ano.

Desempenho das pesquisas

A grosso modo, há duas formas de avaliar o desempenho de uma pesquisa eleitoral. Podemos verificar se ela indicou corretamente quem venceria a eleição ou podemos avaliar quão distantes as intenções de voto ficaram dos resultados finais do pleito.

O problema do primeiro critério é que ele é frequentemente injusto ao comparar pesquisas diferentes. Imagine que uma pesquisa tenha dado 49% das intenções de voto para o candidato Bob e 51% para a candidata Alice. Se Bob acaba vencendo com 52% dos votos, é injusto tratar essa pesquisa como tão “errada” quanto outra pesquisa que tenha dado 40% das intenções de voto para Bob e 60% para Alice.

Por esse motivo, o principal indicador que usamos para avaliar o desempenho de uma pesquisa é o erro percentual médio. Basicamente, calculamos a diferença entre as intenções de voto de uma pesquisa e os resultados da eleição para cada candidato. A seguir, calculamos uma média (ajustada) dessas diferenças. Uma pesquisa com erro médio de 1 ponto percentual é excelente. Já uma pesquisa com erro médio de 10 pontos percentuais terá cometido um erro crasso ao avaliar as intenções de voto.

Por essa métrica, o desempenho do mercado de pesquisas melhorou nas capitais, mas piorou no país como um todo:

Erro Médio de Pesquisas Eleitorais (Primeiro Turno)
Erro Médio (capitais) Erro Médio (Brasil)
2012 4,25 4,88
2016 4,99 6,03
2020 4,15 6,26

Há duas hipóteses que podem explicar esse descompasso. A primeira é que nos anos anteriores, pesquisas de baixa qualidade publicadas no interior do país não chegavam à Internet e, por isso, não eram indexadas pelo Pindograma. Em 2020, pode ter sido mais fácil encontrar esses levantamentos, que podem ter aumentado a média de erro das pesquisas deste ano. A segunda hipótese é que, este ano, o eleitor das cidades do interior tenha demorado mais para decidir o seu voto, dificultando o trabalho das pesquisas no geral. Esta demora pode ser um reflexo das campanhas menos presenciais devido à pandemia.

De toda forma, os efeitos da Covid sobre as pesquisas eleitorais não parecem ter sido muito grandes. Ao que tudo indica, não houve um aumento da abstenção a ponto de criar um abismo entre as intenções de voto e os resultados das eleições. Os institutos também parecem ter lidado bem com mudanças no perfil de quem responde as pesquisas eleitorais durante a pandemia — pesquisas feitas em ponto de fluxo, por exemplo, poderiam ter sido facilmente enviesadas, dado que o perfil das pessoas que saem de casa nesse contexto não é necessariamente o mesmo do eleitorado como um todo. Mas não foi o que aconteceu.

Erro Médio nas dez maiores capitais (Primeiro Turno, 2020)
Cidade Erro Médio
Curitiba 2,16
Salvador 2,44
Rio De Janeiro 2.61
Fortaleza 2,95
Goiânia 3,06
Belo Horizonte 3,93
São Paulo 3,96
Manaus 4,05
Recife 4,37
Belém 6,26
Resultados do Ranking

O erro percentual médio funciona razoavelmente bem para estimar a utilidade das pesquisas eleitorais como um todo no Brasil. No entanto, é injusto usá-lo por si só para comparar o desempenho de pesquisas diferentes.

É natural, por exemplo, que uma pesquisa feita a cinco dias da eleição tenha um erro percentual médio maior que outra feita na véspera do pleito. Também não é justo comparar pesquisas feitas em pleitos mais estáveis com outras feitas em municípios nos quais um número maior de eleitores decide seu voto na frente da urna. O papel do Ranking de Institutos de Pesquisa do Pindograma é levar fatores como esse em consideração para estabelecer uma comparação mais justa entre as empresas de pesquisa brasileiras.

Os resultados do ranking atualizado com dados de 2020 confirmam, em grande parte, os resultados do levantamento anterior. Na primeira versão do ranking, cada instituto recebeu uma nota entre A, B+, B, B-, C e D. Após a atualização, apenas um instituto mudou duas notas no ranking: o Paraná Pesquisas, que pulou da nota B para A. De resto, nenhum instituto melhorou ou piorou sua classificação em mais de uma nota. O primeiro colocado no ranking, o Instituto Opinião, manteve sua posição. Da mesma forma, os maiores institutos do país — Ibope e Datafolha — continuam entre as melhores empresas de pesquisa.

A atualização também revelou novos institutos cujo desempenho pífio merece investigação. É o caso do instituto matogrossense Olhar Dados, também conhecido como Malujoa Comunicações. As pesquisas da empresa tiveram um erro médio de 15 pontos percentuais, um novo recorde de mau desempenho no ranking do Pindograma.

Metodologia

Os critérios do ranking permaneceram exatamente os mesmos que utilizamos para calcular a nota dos institutos antes da eleição de 2020. Apenas os dados foram atualizados.

Isso não quer dizer que a metodologia do ranking seja irretocável. O Pindograma está certo de que uma análise mais criteriosa das pesquisas eleitorais de 2020 irá inspirar mudanças em alguns dos critérios que utilizamos para avaliar os institutos. No entanto, esse tipo de análise requer, mais de duas semanas; e julgamos que uma atualização do Ranking antes do segundo turno seria valiosa para nossos leitores. Com ela, esperamos qualificar o debate sobre pesquisas eleitorais nas 57 cidades que ainda não decidiram quem as governará pelos próximos quatro anos.


Dados utilizados na matéria: Resultados de Pesquisas Eleitorais (Pindograma); Resultados de Eleições (Tribunal Superior Eleitoral).

Contribuiu com dados: Pedro Fonseca.

Crédito das imagens: Midia Ninja/Wikimedia Commons, Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo

Para reproduzir os números citados, os dados e o código podem ser encontrados aqui.

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Daniel Ferreira

é editor do Pindograma.

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