Campinas: uma corrida eleitoral marcada pelo passado


Pautas locais marcam uma corrida polarizada entre lideranças políticas
POR FRANCISCO RICCI • 12/11/2020

Em 2011, uma investigação de corrupção levou à prisão de 11 pessoas ligadas à Prefeitura de Campinas, incluindo secretários municipais e ex-diretores de uma autarquia. Poucos meses depois, os vereadores Artur Orsi (PSD), Rafael Zimbaldi (PL) e Dário Saadi (Republicanos) votaram para cassar o então prefeito Dr. Hélio (PDT). Nove anos depois, os quatro protagonizam a disputa eleitoral pela prefeitura.

O atual líder da corrida é o deputado estadual Rafael Zimbaldi (PL), com 27% das intenções de voto, segundo o agregador de pesquisas do Pindograma. Enquanto vereador, Zimbaldi foi líder na Câmara do prefeito Jonas Donizette (PSB) no biênio 2013-14. Mas agora, traz críticas à atual gestão. Em entrevista para a TV Bandeirantes, o candidato se distanciou de Jonas, dizendo que “se continuidade fosse boa a população estaria aprovando [o governo]. Temos o Jonas do primeiro mandato e o do segundo mandato”. Em debate, chegou a se dizer “favorável à abertura de uma comissão processante do atual prefeito”. E em um aceno aos eleitores de maior renda, criticou o último aumento do IPTU na cidade como indevido.

Os votos que Zimbaldi recebeu para deputado estadual nas últimas eleições ajudam a entender suas chances no pleito desse domingo. A área onde ele mais recebeu votos — os bairros próximos ao Aeroporto de Viracopos — são as partes mais pobres da cidade. Isso não é novidade: Salvador Zimbaldi, pai de Rafael, também teve historicamente maior votação nessas áreas. Em 2020, Zimbaldi tem o desafio de construir uma coalizão que inclua tanto a sua base mais tradicional quanto os eleitores de maior renda insatisfeitos com a atual gestão.

Enquanto isso, o candidato que busca reconstruir a coalizão de Jonas Donizette é Dário Saadi, que foi Secretário de Esportes do atual prefeito. De acordo com nosso agregador de pesquisas, Saadi está em segundo lugar no momento, com 22% das intenções de voto.

Saadi aposta no espólio político de Jonas Donizette, que foi reeleito em 2016 no primeiro turno com 65% dos votos. À época, Jonas conseguiu votação alta em quase todos os bairros da cidade, com exceção do distrito de Campo Grande, região de menor renda no Sudoeste da cidade. Mas a popularidade do prefeito já não é a mesma: a mais recente pesquisa Ibope mostrou que o atual prefeito tem apenas 39% de aprovação. É improvável que Dário consiga repetir o desempenho de seu aliado, mesmo tendo seu apoio.

Para criar uma identidade própria, a campanha de Saadi aposta na sua imagem de gestor e médico, reforçando seu passado como presidente do Hospital Mário Gatti. O candidato busca também capturar o voto antipetista. Seu site ressalta que como vereador, Dário buscou punir “desvios durante o governo petista na Prefeitura de Campinas”.

Em terceiro lugar, o vereador Pedro Tourinho (PT) tem 10% de intenções de voto. Tourinho substitui o tradicional candidato petista em Campinas, Márcio Pochmann, que já concorreu duas vezes para prefeito e também para deputado federal, sem sucesso. É possível considerar a distribuição dos votos de Pochmann em 2016 como indicativas dos lugares que podem apoiar Tourinho:

Sua votação ficou contida em poucas áreas, principalmente em torno da Unicamp e seu campus universitário. Mas mesmo lá, teve votação menor que Jonas.

Em quarto lugar, está outro vereador que cassou Dr. Hélio: Artur Orsi. Com 7% das intenções de voto, ele também traz críticas à administração de Jonas. Em debate da VTV Campinas, Orsi marcou sua diferença com Zimbaldi e Saadi em suas considerações finais: “primeiro mês do governo Jonas Donizette, eu fui para oposição. Eu não deixei para falar que o governo Jonas Donizette estava fazendo coisa errada depois de sete anos, depois de ter tido apoio dele para deputado, depois de ser líder dele na Câmara, ser presidente”.

Orsi ficou em segundo lugar na disputa pela prefeitura em 2016, com 15,4% dos votos. Naquele ano, o candidato obteve maior parte de sua votação nas regiões de renda mais alta, como o bairro central do Cambuí e as regiões no nordeste da cidade, que concentram condomínios fechados. Em 2020, a campanha de Orsi continua focada nesse público: o candidato faz duras críticas ao aumento de IPTU e promete uma cidade mais atraente a investimentos, com gastos públicos menores.

Por fim, o ex-prefeito Dr. Hélio (PDT) volta para combater os vereadores que trouxeram sua cassação em 2011. Hélio também tem 7% das intenções, mas batalha judicialmente contra uma impugnação de sua candidatura. Para retornar a sua considerável popularidade do passado, o candidato primeiro precisará combater judicialmente o impedimento de sua candidatura com base na Lei da Ficha Limpa.

Alinhados em 2011, os vereadores que derrubaram o então prefeito Dr. Hélio hoje se dividem, cada um com seu projeto político. Saadi busca refrescar o legado do prefeito Jonas com pontos novos da sua imagem de gestor e médico, para disputar jovem Zimbaldi, que segue o legado político de seu pai. Mais atrás vêm Orsi e Tourinho, ideologicamente muito diferentes e com bases em partes opostas da cidade. O derrotado Dr. Hélio tenta uma reviravolta para voltar a seu cargo, com dificuldades com a justiça e um legado do escândalo de 2011.


Dados usados na matéria: Locais de Votação (Pindograma); Votação por Seção Eleitoral (Tribunal Superior Eleitoral/Cepespdata).

Contribuiu com Dados: Daniel Ferreira.

Créditos da imagem: Câmara dos Deputados, Dário Saadi/Divulgação, Enioprado/Wikimedia Commons, Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, Câmara Municipal de Campinas, Artur Orsi/ Divulgação, Pedro Tourinho/Divulgação.

Para reproduzir os números da matéria, o código pode ser encontrado aqui.

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Francisco Ricci é fundador e repórter do Pindograma.

Campinas: uma corrida eleitoral marcada pelo passado

Pautas locais marcam uma corrida polarizada entre lideranças políticas

POR FRANCISCO RICCI

12/11/2020

Em 2011, uma investigação de corrupção levou à prisão de 11 pessoas ligadas à Prefeitura de Campinas, incluindo secretários municipais e ex-diretores de uma autarquia. Poucos meses depois, os vereadores Artur Orsi (PSD), Rafael Zimbaldi (PL) e Dário Saadi (Republicanos) votaram para cassar o então prefeito Dr. Hélio (PDT). Nove anos depois, os quatro protagonizam a disputa eleitoral pela prefeitura.

O atual líder da corrida é o deputado estadual Rafael Zimbaldi (PL), com 27% das intenções de voto, segundo o agregador de pesquisas do Pindograma. Enquanto vereador, Zimbaldi foi líder na Câmara do prefeito Jonas Donizette (PSB) no biênio 2013-14. Mas agora, traz críticas à atual gestão. Em entrevista para a TV Bandeirantes, o candidato se distanciou de Jonas, dizendo que “se continuidade fosse boa a população estaria aprovando [o governo]. Temos o Jonas do primeiro mandato e o do segundo mandato”. Em debate, chegou a se dizer “favorável à abertura de uma comissão processante do atual prefeito”. E em um aceno aos eleitores de maior renda, criticou o último aumento do IPTU na cidade como indevido.

Os votos que Zimbaldi recebeu para deputado estadual nas últimas eleições ajudam a entender suas chances no pleito desse domingo. A área onde ele mais recebeu votos — os bairros próximos ao Aeroporto de Viracopos — são as partes mais pobres da cidade. Isso não é novidade: Salvador Zimbaldi, pai de Rafael, também teve historicamente maior votação nessas áreas. Em 2020, Zimbaldi tem o desafio de construir uma coalizão que inclua tanto a sua base mais tradicional quanto os eleitores de maior renda insatisfeitos com a atual gestão.

Enquanto isso, o candidato que busca reconstruir a coalizão de Jonas Donizette é Dário Saadi, que foi Secretário de Esportes do atual prefeito. De acordo com nosso agregador de pesquisas, Saadi está em segundo lugar no momento, com 22% das intenções de voto.

Saadi aposta no espólio político de Jonas Donizette, que foi reeleito em 2016 no primeiro turno com 65% dos votos. À época, Jonas conseguiu votação alta em quase todos os bairros da cidade, com exceção do distrito de Campo Grande, região de menor renda no Sudoeste da cidade. Mas a popularidade do prefeito já não é a mesma: a mais recente pesquisa Ibope mostrou que o atual prefeito tem apenas 39% de aprovação. É improvável que Dário consiga repetir o desempenho de seu aliado, mesmo tendo seu apoio.

Para criar uma identidade própria, a campanha de Saadi aposta na sua imagem de gestor e médico, reforçando seu passado como presidente do Hospital Mário Gatti. O candidato busca também capturar o voto antipetista. Seu site ressalta que como vereador, Dário buscou punir “desvios durante o governo petista na Prefeitura de Campinas”.

Em terceiro lugar, o vereador Pedro Tourinho (PT) tem 10% de intenções de voto. Tourinho substitui o tradicional candidato petista em Campinas, Márcio Pochmann, que já concorreu duas vezes para prefeito e também para deputado federal, sem sucesso. É possível considerar a distribuição dos votos de Pochmann em 2016 como indicativas dos lugares que podem apoiar Tourinho:

Sua votação ficou contida em poucas áreas, principalmente em torno da Unicamp e seu campus universitário. Mas mesmo lá, teve votação menor que Jonas.

Em quarto lugar, está outro vereador que cassou Dr. Hélio: Artur Orsi. Com 7% das intenções de voto, ele também traz críticas à administração de Jonas. Em debate da VTV Campinas, Orsi marcou sua diferença com Zimbaldi e Saadi em suas considerações finais: “primeiro mês do governo Jonas Donizette, eu fui para oposição. Eu não deixei para falar que o governo Jonas Donizette estava fazendo coisa errada depois de sete anos, depois de ter tido apoio dele para deputado, depois de ser líder dele na Câmara, ser presidente”.

Orsi ficou em segundo lugar na disputa pela prefeitura em 2016, com 15,4% dos votos. Naquele ano, o candidato obteve maior parte de sua votação nas regiões de renda mais alta, como o bairro central do Cambuí e as regiões no nordeste da cidade, que concentram condomínios fechados. Em 2020, a campanha de Orsi continua focada nesse público: o candidato faz duras críticas ao aumento de IPTU e promete uma cidade mais atraente a investimentos, com gastos públicos menores.

Por fim, o ex-prefeito Dr. Hélio (PDT) volta para combater os vereadores que trouxeram sua cassação em 2011. Hélio também tem 7% das intenções, mas batalha judicialmente contra uma impugnação de sua candidatura. Para retornar a sua considerável popularidade do passado, o candidato primeiro precisará combater judicialmente o impedimento de sua candidatura com base na Lei da Ficha Limpa.

Alinhados em 2011, os vereadores que derrubaram o então prefeito Dr. Hélio hoje se dividem, cada um com seu projeto político. Saadi busca refrescar o legado do prefeito Jonas com pontos novos da sua imagem de gestor e médico, para disputar jovem Zimbaldi, que segue o legado político de seu pai. Mais atrás vêm Orsi e Tourinho, ideologicamente muito diferentes e com bases em partes opostas da cidade. O derrotado Dr. Hélio tenta uma reviravolta para voltar a seu cargo, com dificuldades com a justiça e um legado do escândalo de 2011.


Dados usados na matéria: Locais de Votação (Pindograma); Votação por Seção Eleitoral (Tribunal Superior Eleitoral/Cepespdata).

Contribuiu com Dados: Daniel Ferreira.

Créditos da imagem: Câmara dos Deputados, Dário Saadi/Divulgação, Enioprado/Wikimedia Commons, Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, Câmara Municipal de Campinas, Artur Orsi/ Divulgação, Pedro Tourinho/Divulgação.

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