Prefeitura do Recife: uma corrida eleitoral que começou dois anos atrás


Em 2018, Mendonça Filho e Marília Arraes tiveram mais votos em bairros nobres; João Campos se destacou em bairros de menor renda
POR JOÃO GADO F. COSTA • 18/10/2020

Três candidatos que já concorreram nas eleições de 2018 lideram a disputa pela prefeitura do Recife. À frente, está o deputado federal João Campos (PSB), seguido de Marília Arraes (PT), sua colega na Câmara, e Mendonça Filho (DEM), ex-governador e ex-ministro da Educação que tentou obter uma vaga no Senado nas últimas eleições.

Para entender melhor o potencial eleitoral de cada candidato na capital pernambucana, o Pindograma analisou os padrões de votação dos três nas últimas eleições. O forte apoio a Campos por diversos bairros populares parece sustentar sua liderança nesta corrida. Já Mendonça Filho deve continuar a receber votos de bairros nobres. Enquanto isso, Marília tem o desafio de expandir seu voto para além dos universitários e da esquerda de maior renda.

O mapa acima mostra onde Mendoncinha, como é conhecido o candidato do DEM, teve votos para o Senado. As seções eleitorais onde recebeu mais votos no Recife se concentram nos bairros com as maiores rendas per capita da cidade. Na Zona Sul da cidade, elas vão do Pina até o final de Boa Viagem. Já na Zona Norte, um conjunto de bairros nobres que vão de Casa Forte ao Derby foram os que mais votaram no ex-governador. Em ambas estas zonas de apoio, o candidato teve mais de 20% dos votos para o Senado. Fora desses bairros, a votação de Mendoncinha cai à medida que a renda do bairro também cai, ficando abaixo dos 12% em quase todo o resto da cidade.

Já a candidata do PT, que foi vereadora antes de ser deputada federal, teve dois principais focos de votação na cidade. O primeiro deles está nos arredores do campus da Universidade Federal de Pernambuco. O outro foco de votação de Marília foi no Centro, em bairros de classe média como Soledade e Boa Vista, onde se localizam a Universidade Católica de Pernambuco e outras faculdades. Nestes dois grupos de seções eleitorais, Marília recebeu cerca de 10% dos votos para deputada. A petista também concentrou votos em bairros nobres como a Jaqueira, Graças e o Espinheiro, embora tenha recebido menos votos que nos bairros universitários. Essa distribuição dentro da cidade sugere que, no Recife, Marília foi a candidata de escolha de universitários e eleitores de esquerda mais ricos. Este eleitorado contrasta diretamente com os recifenses que votaram em João Campos, que foi bem mais popular na mesma eleição.

O mapa de votação de Campos chama atenção não pelos focos de votação, mas pelos pontos fracos. As áreas que ajudaram a eleger Marília como deputada e onde Mendonça Filho recebeu mais votos são justamente as regiões onde João teve seu pior desempenho. Ao invés de concentrar votos nas elites, o deputado teve apoio consistente de bairros de menor renda. Campos teve diversos focos de apoio espalhados pela cidade em bairros como Cohab na Zona Sul, Dois Unidos na Zona Norte e Santo Amaro no Centro. Em todos esses bairros, a votação em Campos superou os 10%, chegando até 20% no bairro de Campo Grande.

Mesmo fora desse centros de apoio, o candidato teve pelo menos 5% dos votos em quase todos os bairros da capital pernambucana: as exceções foram justamente os focos de apoio à Marília e os bairros de classe alta. Além da alta popularidade, Campos conta também com o apoio do governador Paulo Câmara e do atual prefeito Geraldo Júlio, ambos do PSB.

Baseado nestes mapas, fica mais fácil de entender por que Campos saltou de 18% para 30% das intenções de voto na mais recente atualização do nosso agregador de pesquisas. À medida que a eleição se aproxima, o jovem deputado começa a angariar seus votos distribuídos por toda a capital pernambucana e mostrar a força que o levou a ser o quinto mais votado para a Câmara dos Deputados em 2018. Enquanto isso, é provável que as classes mais altas dividam o voto entre Marília Arraes e Mendonça Filho, favorecendo João ainda mais.

No entanto, a corrida ainda não está encerrada: falta um mês para a eleição e a candidata do Podemos, Delegada Patrícia, está em empate técnico com Arraes e Mendonça. Ela ficou de fora da análise pois é novata na política e nunca concorreu a cargo público. A delegada aposta forte no discurso anticorrupção e de reforço à segurança pública. Já elogiou o juiz Sérgio Moro diversas vezes e se apresenta como a alternativa ao PSB e ao PT, que desde 2000 dominam a política recifense.

Resta ver se o discurso de renovação que funcionou tão bem em 2018 vai catapultá-la ao segundo turno ou se as figuras já conhecidas vão seguir à frente e repetir o padrão de dois anos atrás.


Dados utilizados na matéria: Locais de Votação (Pindograma); Votação por Seção Eleitoral (Tribunal Superior Eleitoral).

Contribuiu com dados: Daniel Ferreira.

Créditos da imagem: Guilherme Jofili/Flickr; Rodolfo Loepert/Divulgação; Rafael Carvalho, MEC/Divulgação.

Para reproduzir os números citados, o código e os dados podem ser encontrados aqui.

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João Gado F. Costa é repórter do Pindograma.

Prefeitura do Recife: uma corrida eleitoral que começou dois anos atrás

Em 2018, Mendonça Filho e Marília Arraes tiveram mais votos em bairros nobres; João Campos se destacou em bairros de menor renda

POR JOÃO GADO F. COSTA

18/10/2020

Três candidatos que já concorreram nas eleições de 2018 lideram a disputa pela prefeitura do Recife. À frente, está o deputado federal João Campos (PSB), seguido de Marília Arraes (PT), sua colega na Câmara, e Mendonça Filho (DEM), ex-governador e ex-ministro da Educação que tentou obter uma vaga no Senado nas últimas eleições.

Para entender melhor o potencial eleitoral de cada candidato na capital pernambucana, o Pindograma analisou os padrões de votação dos três nas últimas eleições. O forte apoio a Campos por diversos bairros populares parece sustentar sua liderança nesta corrida. Já Mendonça Filho deve continuar a receber votos de bairros nobres. Enquanto isso, Marília tem o desafio de expandir seu voto para além dos universitários e da esquerda de maior renda.

O mapa acima mostra onde Mendoncinha, como é conhecido o candidato do DEM, teve votos para o Senado. As seções eleitorais onde recebeu mais votos no Recife se concentram nos bairros com as maiores rendas per capita da cidade. Na Zona Sul da cidade, elas vão do Pina até o final de Boa Viagem. Já na Zona Norte, um conjunto de bairros nobres que vão de Casa Forte ao Derby foram os que mais votaram no ex-governador. Em ambas estas zonas de apoio, o candidato teve mais de 20% dos votos para o Senado. Fora desses bairros, a votação de Mendoncinha cai à medida que a renda do bairro também cai, ficando abaixo dos 12% em quase todo o resto da cidade.

Já a candidata do PT, que foi vereadora antes de ser deputada federal, teve dois principais focos de votação na cidade. O primeiro deles está nos arredores do campus da Universidade Federal de Pernambuco. O outro foco de votação de Marília foi no Centro, em bairros de classe média como Soledade e Boa Vista, onde se localizam a Universidade Católica de Pernambuco e outras faculdades. Nestes dois grupos de seções eleitorais, Marília recebeu cerca de 10% dos votos para deputada. A petista também concentrou votos em bairros nobres como a Jaqueira, Graças e o Espinheiro, embora tenha recebido menos votos que nos bairros universitários. Essa distribuição dentro da cidade sugere que, no Recife, Marília foi a candidata de escolha de universitários e eleitores de esquerda mais ricos. Este eleitorado contrasta diretamente com os recifenses que votaram em João Campos, que foi bem mais popular na mesma eleição.

O mapa de votação de Campos chama atenção não pelos focos de votação, mas pelos pontos fracos. As áreas que ajudaram a eleger Marília como deputada e onde Mendonça Filho recebeu mais votos são justamente as regiões onde João teve seu pior desempenho. Ao invés de concentrar votos nas elites, o deputado teve apoio consistente de bairros de menor renda. Campos teve diversos focos de apoio espalhados pela cidade em bairros como Cohab na Zona Sul, Dois Unidos na Zona Norte e Santo Amaro no Centro. Em todos esses bairros, a votação em Campos superou os 10%, chegando até 20% no bairro de Campo Grande.

Mesmo fora desse centros de apoio, o candidato teve pelo menos 5% dos votos em quase todos os bairros da capital pernambucana: as exceções foram justamente os focos de apoio à Marília e os bairros de classe alta. Além da alta popularidade, Campos conta também com o apoio do governador Paulo Câmara e do atual prefeito Geraldo Júlio, ambos do PSB.

Baseado nestes mapas, fica mais fácil de entender por que Campos saltou de 18% para 30% das intenções de voto na mais recente atualização do nosso agregador de pesquisas. À medida que a eleição se aproxima, o jovem deputado começa a angariar seus votos distribuídos por toda a capital pernambucana e mostrar a força que o levou a ser o quinto mais votado para a Câmara dos Deputados em 2018. Enquanto isso, é provável que as classes mais altas dividam o voto entre Marília Arraes e Mendonça Filho, favorecendo João ainda mais.

No entanto, a corrida ainda não está encerrada: falta um mês para a eleição e a candidata do Podemos, Delegada Patrícia, está em empate técnico com Arraes e Mendonça. Ela ficou de fora da análise pois é novata na política e nunca concorreu a cargo público. A delegada aposta forte no discurso anticorrupção e de reforço à segurança pública. Já elogiou o juiz Sérgio Moro diversas vezes e se apresenta como a alternativa ao PSB e ao PT, que desde 2000 dominam a política recifense.

Resta ver se o discurso de renovação que funcionou tão bem em 2018 vai catapultá-la ao segundo turno ou se as figuras já conhecidas vão seguir à frente e repetir o padrão de dois anos atrás.


Dados utilizados na matéria: Locais de Votação (Pindograma); Votação por Seção Eleitoral (Tribunal Superior Eleitoral).

Contribuiu com dados: Daniel Ferreira.

Créditos da imagem: Guilherme Jofili/Flickr; Rodolfo Loepert/Divulgação; Rafael Carvalho, MEC/Divulgação.

Para reproduzir os números citados, o código e os dados podem ser encontrados aqui.

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João Gado F. Costa

é repórter do Pindograma.

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