O voto de classe em Vitória


João Coser e Delegado Pazolini disputam eleitorado de menor renda; Gandini tenta herdar voto dos mais ricos
POR PEDRO SIEMSEN • 28/10/2020

A eleição municipal de 2020 em Vitória, capital do Espírito Santo, ainda não tem um favorito claro. De acordo com uma análise do Pindograma dos últimos pleitos na cidade, porém, bairros de alta renda preferiram dar votos para o grupo político de Fabrício Gandini (Cidadania) em eleições passadas. Enquanto isso, Delegado Pazolini (Republicanos), João Coser (PT) e Capitão Assumção (Patriota) terão de disputar entre si os votos dos bairros de menor renda.


Em 2016, o prefeito Luciano Rezende foi reeleito pelo Cidadania (antigo PPS) no segundo turno, concorrendo contra Amaro Neto (Solidariedade). Ele obteve 51,19% dos votos válidos, mas os votos da cidade foram marcadamente divididos entre bairros com renda mais alta e renda mais baixa.

Como mostram os mapas, Rezende teve forte presença em bairros de alto poder aquisitivo a leste do Centro, como Praia do Canto, Jardim Camburi e Jardim da Penha, assim como no próprio Centro. Amaro Neto, por outro lado, concentrou mais votos em regiões de menor renda – seja nos arredores do Centro, seja na Zona Oeste, em bairros como São Pedro, Santo Antônio e Maruípe.

Em 2020, a corrida para prefeitura da capital capixaba tem um candidato que pode angariar votos como herdeiro político de Luciano Rezende: o deputado estadual Fabrício Gandini (Cidadania). Gandini é apontado por Rezende como seu sucessor e já serviu como Secretário de Gestão e Planejamento da Prefeitura, além de já ter sido eleito vereador três vezes. Gandini concorreu para deputado estadual em 2018 obtendo votos nas seguintes regiões:

Gandini teve força eleitoral na região a leste do aeroporto da cidade, que engloba o Jardim Camburi e a zona industrial do porto Tubarão. Diferente de Rezende, porém, Gandini não teve tantos eleitores no Centro ou nos bairros mais ricos como Praia do Canto e Jardim da Penha. O deputado estadual terá de atrair mais eleitores que escolheram seu aliado Rezende em 2016. Sua campanha também aposta em projetos de investimento em áreas onde seu antecessor não teve tantos votos, como Santo Antônio e São Pedro. Mesmo assim, ele é um dos favoritos no agregador de pesquisas do Pindograma, estando em primeiro lugar com 21% das intenções de voto.

Delegado Pazolini (Republicanos) teve pouco apoio nos bairros ricos da cidade quando se elegeu deputado estadual em 2018. Suas bases eleitorais foram nas regiões de São Pedro, no extremo norte da ilha de Vitória, e Bento Ferreira, que fica próxima ao Centro. O delegado poderá contar com o apoio do ex-candidato Amaro Neto, que mudou para o Republicanos em 2018.

A 18 dias das eleições, Pazolini está em terceiro lugar nas pesquisas, com 10% das intenções de voto. Resta ver se ele de fato conseguirá concentrar os votos dos apoiadores de Amaro Neto em 2016, que somados a alguns avanços nas regiões ricas, poderia lhe dar uma chance de vitória.

Empatado em primeiro lugar nas pesquisas, Vitória conta também com um velho conhecido: João Coser (PT), prefeito da cidade entre 2005 e 2013. Coser concorreu ao Senado em 2014, mas perdeu a eleição. Seus resultados eleitorais de então indicam que ele disputaria espaço com Pazolini:

Naquela eleição, o petista teve muitos votos em bairros populares, como Bento Ferreira, São Pedro e Santo Antônio. Já em bairros nobres como a Praia do Canto e o Jardim da Penha, Coser teve poucos votos. Considerando que o contexto político mudou radicalmente desde 2014, com a derrocada do PT, é difícil prever se eles poderão reconquistar seus antigos eleitores. Sua campanha reforça os aspectos positivos da gestão do petista entre 2005-2013 para atingir esse objetivo. Porém, segundo uma pesquisa eleitoral divulgada pela Futura no início de outubro, Coser tem a maior rejeição de todos os candidatos, inclusive entre eleitores de baixa renda.

Além dos três primeiros colocados, ainda é necessário considerar três outros candidatos. A vereadora Neuzinha (PSDB) apela a uma base similar à de Rezende e Gandini, mas também se vale de um discurso de renovação política e mudança da atual gestão.

Capitão Assumção, que recebeu muitos votos em bairros nos bairros da Nova Palestina e Bento Ferreira na eleição de 2018, deve disputar votos com Delegado Pazolini, seguindo uma linha ainda mais à direita e contando com o apoio direto do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). O Capitão foi um dos protagonistas do motim da Polícia Militar no Espírito Santo em 2017 e chegou a ser preso brevemente por seu envolvimento com o levante.

Por fim, o atual vice-prefeito Sérgio Sá (PSB) aposta em críticas aos elementos negativos da atual gestão como uma carta para angariar votos, disputando diretamente com Gandini pelo espólio político da atual gestão.


Dados usados na matéria: Locais de Votação (Pindograma); Votação por Seção Eleitoral (Tribunal Superior Eleitoral).

Contribuiu com Dados: Daniel Ferreira.

Créditos da imagem: Divulgação/Sérgio Cardoso; Assembleia Legislativa do Espirito Santo/Ellen Campanharo; Blude/Wikimedia Commons.

Para reproduzir os números da matéria, o código pode ser encontrado aqui.

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Pedro Siemsen é repórter do Pindograma.

O voto de classe em Vitória

João Coser e Delegado Pazolini disputam eleitorado de menor renda; Gandini tenta herdar voto dos mais ricos

POR PEDRO SIEMSEN

28/10/2020

A eleição municipal de 2020 em Vitória, capital do Espírito Santo, ainda não tem um favorito claro. De acordo com uma análise do Pindograma dos últimos pleitos na cidade, porém, bairros de alta renda preferiram dar votos para o grupo político de Fabrício Gandini (Cidadania) em eleições passadas. Enquanto isso, Delegado Pazolini (Republicanos), João Coser (PT) e Capitão Assumção (Patriota) terão de disputar entre si os votos dos bairros de menor renda.


Em 2016, o prefeito Luciano Rezende foi reeleito pelo Cidadania (antigo PPS) no segundo turno, concorrendo contra Amaro Neto (Solidariedade). Ele obteve 51,19% dos votos válidos, mas os votos da cidade foram marcadamente divididos entre bairros com renda mais alta e renda mais baixa.

Como mostram os mapas, Rezende teve forte presença em bairros de alto poder aquisitivo a leste do Centro, como Praia do Canto, Jardim Camburi e Jardim da Penha, assim como no próprio Centro. Amaro Neto, por outro lado, concentrou mais votos em regiões de menor renda – seja nos arredores do Centro, seja na Zona Oeste, em bairros como São Pedro, Santo Antônio e Maruípe.

Em 2020, a corrida para prefeitura da capital capixaba tem um candidato que pode angariar votos como herdeiro político de Luciano Rezende: o deputado estadual Fabrício Gandini (Cidadania). Gandini é apontado por Rezende como seu sucessor e já serviu como Secretário de Gestão e Planejamento da Prefeitura, além de já ter sido eleito vereador três vezes. Gandini concorreu para deputado estadual em 2018 obtendo votos nas seguintes regiões:

Gandini teve força eleitoral na região a leste do aeroporto da cidade, que engloba o Jardim Camburi e a zona industrial do porto Tubarão. Diferente de Rezende, porém, Gandini não teve tantos eleitores no Centro ou nos bairros mais ricos como Praia do Canto e Jardim da Penha. O deputado estadual terá de atrair mais eleitores que escolheram seu aliado Rezende em 2016. Sua campanha também aposta em projetos de investimento em áreas onde seu antecessor não teve tantos votos, como Santo Antônio e São Pedro. Mesmo assim, ele é um dos favoritos no agregador de pesquisas do Pindograma, estando em primeiro lugar com 21% das intenções de voto.

Delegado Pazolini (Republicanos) teve pouco apoio nos bairros ricos da cidade quando se elegeu deputado estadual em 2018. Suas bases eleitorais foram nas regiões de São Pedro, no extremo norte da ilha de Vitória, e Bento Ferreira, que fica próxima ao Centro. O delegado poderá contar com o apoio do ex-candidato Amaro Neto, que mudou para o Republicanos em 2018.

A 18 dias das eleições, Pazolini está em terceiro lugar nas pesquisas, com 10% das intenções de voto. Resta ver se ele de fato conseguirá concentrar os votos dos apoiadores de Amaro Neto em 2016, que somados a alguns avanços nas regiões ricas, poderia lhe dar uma chance de vitória.

Empatado em primeiro lugar nas pesquisas, Vitória conta também com um velho conhecido: João Coser (PT), prefeito da cidade entre 2005 e 2013. Coser concorreu ao Senado em 2014, mas perdeu a eleição. Seus resultados eleitorais de então indicam que ele disputaria espaço com Pazolini:

Naquela eleição, o petista teve muitos votos em bairros populares, como Bento Ferreira, São Pedro e Santo Antônio. Já em bairros nobres como a Praia do Canto e o Jardim da Penha, Coser teve poucos votos. Considerando que o contexto político mudou radicalmente desde 2014, com a derrocada do PT, é difícil prever se eles poderão reconquistar seus antigos eleitores. Sua campanha reforça os aspectos positivos da gestão do petista entre 2005-2013 para atingir esse objetivo. Porém, segundo uma pesquisa eleitoral divulgada pela Futura no início de outubro, Coser tem a maior rejeição de todos os candidatos, inclusive entre eleitores de baixa renda.

Além dos três primeiros colocados, ainda é necessário considerar três outros candidatos. A vereadora Neuzinha (PSDB) apela a uma base similar à de Rezende e Gandini, mas também se vale de um discurso de renovação política e mudança da atual gestão.

Capitão Assumção, que recebeu muitos votos em bairros nos bairros da Nova Palestina e Bento Ferreira na eleição de 2018, deve disputar votos com Delegado Pazolini, seguindo uma linha ainda mais à direita e contando com o apoio direto do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). O Capitão foi um dos protagonistas do motim da Polícia Militar no Espírito Santo em 2017 e chegou a ser preso brevemente por seu envolvimento com o levante.

Por fim, o atual vice-prefeito Sérgio Sá (PSB) aposta em críticas aos elementos negativos da atual gestão como uma carta para angariar votos, disputando diretamente com Gandini pelo espólio político da atual gestão.


Dados usados na matéria: Locais de Votação (Pindograma); Votação por Seção Eleitoral (Tribunal Superior Eleitoral).

Contribuiu com Dados: Daniel Ferreira.

Créditos da imagem: Divulgação/Sérgio Cardoso; Assembleia Legislativa do Espirito Santo/Ellen Campanharo; Blude/Wikimedia Commons.

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Pedro Siemsen

é repórter do Pindograma.

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